terça-feira, 29 de novembro de 2011

Controle de qualidade proteico: a via de destruição por proteases

Proteases são enzimas proteolíticas, ou seja, têm a função de quebrar ligações peptídicas entre resíduos de aminoácidos que compõem uma proteína. É exatamente o que o leitor está pensando: é uma proteína que tem função básica de degradar outras proteínas. Muitos podem lembrar-se da importância dessas enzimas na digestão, porém aqui destacaremos a participação desse grupo enzimático no processo de envelhecimento.
Em post passado (HSP e o envelhecimento) foi discutida atividade das HSPs (heat shock protein) sobre proteínas danificadas por estresse externo, a qual envolvia basicamente a interação de HSPs e as proteínas para ajuda-las a recuperar suas conformações nativas caso estivessem em conformação não funcional. Esse mecanismo nem sempre é capaz de realizar essa recuperação, isso pode ocorrer quando, por exemplo, o conjunto de novas interações formadas na estrutura proteica danificada sejam tão fortes que impeçam o refolding(retorno à conformação nativa); assim, a célula desencadeia um processo que leva à degradação das proteínas danificadas no proteassoma, um complexo de proteínas capaz de degradar praticamente qualquer proteína.
Durante a vida as células ficam expostas a diversos danos externos, como radiação, metabólitos tóxicos e outros processos de perda de conformação e, portanto, de funcionalidade proteica; caso uma proteína sofra algum desses danos, ela pode voltar a sua conformação nativa por atividade das HSPs, se isso não for possível, Hsp70/ Hsp40 podem, em atividade alternativa, ajudar no reconhecimento da proteína anormal através da interação de sítios específicos de sua própria estrutura com carboxyl terminus of HSP-interacting protein (CHIP), uma proteína que inibe o refolding e catalisa a ubiquitinação da estrutura, marcando-a para ser levada até o proteassoma.
Ubiquitinar implica em anexar a proteína-alvo um número específico de proteínas chamadas ubiquitinas organizado em uma conformação também específica, essa ação tem função de “marcar” a proteína com alguma finalidade, que depende de cada situação, como o transporte desta até algum local da célula ou para sofrer alguma modificação; na situação analisada elas recebem a sinalização de que devem ser enviadas pra o proteassoma, onde serão degradadas com gasto de ATP.
Percebe-se que pela sua função o proteassoma é de grande importância para o controle de proteínas alteradas em células eucarióticas e, portanto, para a manutenção de integridade celular durante o envelhecimento. Infelizmente, como outros complexos proteicos, o proteassoma também está sujeito aos danos impostos pelo meio durante o envelhecimento e, como todos os mecanismos de manutenção celular, sofre declínio de sua atividade; por ser um mecanismo de finalidade semelhante ao de heat shock response (resposta a choque térmico, das HSP), o declínio de sua atividade acarreta nos efeitos também observados neste. Para uma melhor noção dos efeitos leia HSP e o envelhecimento.

Referências bibliográficas:

Escrito por: Luis Octavio Hauschild 

sábado, 26 de novembro de 2011

A ciência e um envelhecimento alegre

  Uma das maiores preocupações da humanidade sempre foi a manutenção da juventude. Muitos dizem que isso é um reflexo da sociedade contemporânea, marcada pela preocupação exacerbada com a estética e a eterna jovialidade e blá blá blá blá. Contudo, ainda no século XIX, mais especificamente em 1890, Oscar Wilde já retratou em “O retrato de Dorian Gray” essa preocupação com a juventude eterna, mostrando que ela é muito mais algo intrínseco ao humano do que algo contemporâneo.
"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!" .(O retrato de Dorian Gray)
  Então, parece aceitável menos inaceitável entendermos porque as pessoas insistem em perguntar: “Como curar o envelhecimento ?” Mas não existem só narcisistas no mundo. O prolongamento da vida significaria também a oportunidade de passar mais tempo ao lado da pessoa amada e tornar o “felizes para sempre” um pouquinho mais literal.
  De qualquer forma, por diferentes motivos, pesquisadores ao redor de todo o mundo buscam formas de minimizar os efeitos negativos do envelhecimento. A revista Istoé recentemente divulgou uma reportagem com uma série de pesquisas que visam prolongar a vida conjuntamente a um aumento da qualidade de vida. Neste post será abordada uma pesquisa que se fundamenta nas caspases e células senescentes e outra fundamentada no resveratrol e na sirtuína.
  Vamos então ao primeiro. Cientistas da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, desenvolveram uma forma de minimizar os efeitos das células senescentes. Com o passar do tempo, uma célula outrora jovem vai perdendo a capacidade de se multiplicar, sendo denominada então como célula senescente. Há muito tempo sabe-se que elas estão envolvidas na inflamação dos tecidos e manifestação de várias doenças relacionadas ao envelhecimento. Os pesquisadores criaram uma linhagem de ratos que possuíam caspase 8 nas células senescentes; em seguida , injetaram uma droga que ativava a caspase 8; então a caspase 8 entrava em ação, provocando a morte dessas células senescentes. Com a redução das células senescentes presentes no organismo, doenças típicas do envelhecimento manifestaram-se mais tardiamente.


  Para entender a segunda linha de pesquisa é necessário entender o que são sirtuínas. De forma bem didática, sirtuínas são enzimas envolvidas na ativação ou desativação de genes e na reparação do DNA. Com o passar do tempo, erros no DNA se tornam mais frequentes, devido ao stress oxidativo, por exemplo, e vão sendo acumulados. As sirtuínas não conseguem reparar todos esses erros e o organismo envelhece. Alguns cientistas então pensaram: “Como aumentar a eficiência das sirtuínas?” Foi observado o efeito do resveratrol na ativação das sirtuínas, aumentando a longevidade e a qualidade de vida dos idosos. Então, vários laboratórios, como a Sirtris Pharmaceuticals, trabalham na criação de moléculas sintéticas com efeitos similares ao do resveratrol.  Apesar de ainda não ser recomendado, já há ingestão de resveratrol via cápsulas, mas ele pode ser ingerido de uma forma bem mais simples e divertida : o vinho tinto. Isso porque o resveratrol está contido na casca da uva vermelha.
  Enfim... se Dorian Gray fosse contemporâneo a nós, veria que não é preciso dar tudo pela juventude, apenas algumas horas de estudo e dedicação à ciência. E, para nossa alegria, são várias as linhas de pesquisa que tentam nos deixar  idosos mais saudáveis, mais de bem com a vida e felizes por, pelo menos, mais algum tempinho. 




Referências bibliográficas:
Revista ISTOÉ Edição 2193

Escrito por Luís Fernando Amarante Fernandes

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Menopausa e "Andropausa"


Olá leitores! Venho mais uma vez falar a respeito de disfunções metabólicas que ocorrem com o processo de envelhecimento. Desta vez, o tema é bastante comum quando nos referimos ao envelhecimento e bem difundido na mídia: a menopausa e a “andropausa”.
Como já foi incessantemente frisado nas postagens anteriores, o processo de envelhecimento é acompanhado de inúmeras alterações endócrinas, sobretudo no que se diz respeito a modificações de níveis hormonais, o que acarreta deficiências na homeostase do organismo. Pois bem, os hormônios sexuais (por exemplo estrogênio e progesterona nas mulheres e a testosterona nos homens) não estão alheios a esse mecanismo e, por isso, seus níveis apresentam uma queda à medida que se envelhece. É justamente essa queda nos níveis desses hormônios em especial que promove o advento da condição conhecida como menopausa, nas mulheres, e “andropausa”, nos homens.     

Os principais atores relacionados à menopausa e “andropausa”: os hormônios testosterona e estrogênio
A redução progressiva do estrogênio que ocorre geralmente nas mulheres com mais de 50 anos promove efeitos em todo o corpo, acarretando a condição fisiológica da menopausa, também chamada de climatério. Nessa fase, os ovários, de maneira abrupta, tornam-se ineficientes e há o fim da ovulação.

Essa queda hormonal geralmente é acompanhada de diversos sintomas, como perda de libido, insônia, irritabilidade, depressão, sudorese noturna, ondas de calor, ressecamento da pele, do cabelo e da vagina, e ardor ao urinar. Em longo prazo, pode-se observar maior incidência de osteoporose, doenças cardiovasculares e declínio da memória.
A osteoporose, nesse caso, é resultado de uma degeneração da massa óssea, fazendo com que ossos fiquem porosos e enfraquecidos, aumentando o risco de fraturas. As doenças cardiovasculares ocorrem pelo fato de a queda de estrogênio acarretar um descontrole do metabolismo do colesterol, propiciando a formação de ateromas. O declínio da memória está relacionado ao fato de que a deficiência de estrogênio está associada a uma diminuição da produção de acetilcolina e do fluxo sanguíneo cerebral.
Em situação análoga à condição de menopausa nas mulheres, há a “andropausa” nos homens. É válido ressaltar, primeiramente, que essa denominação é conceitualmente errada, visto que não há uma abrupta falência das gônadas e fim da fertilidade, mas sim uma síndrome caracterizada pela deficiência progressiva do nível de testosterona (vide gráfico abaixo, que representa os níveis de testosterona em função da idade), acompanhada de hipogonadismo. Dessa forma, outra denominação mais adequada seria “deficiência androgênica do homem idoso”, porém o termo “andropausa” já está bastante difundido.

A testosterona tem, dentre outras funções, a de estimular a produção de espermatozoides nas células de Sertoli e, por isso, há um declínio nessa produção com a “andropausa”. A queda na taxa de testosterona está associada a alterações na sua síntese a partir do colesterol, o qual é o precursor da maioria dos hormônios sexuais. Com o processo de envelhecimento, há degenerações nas células de Leydig, que diminuem em número, ocasionando respostas inadequadas dos testículos ao estímulo gonadotrópico. Sendo assim, com a “andropausa” o processo de transformação do colesterol em testosterona não se realiza com eficácia e, consequentemente, há um prejuízo na produção de espermatozoides e em inúmeras outras atividades.
Antes da “andropausa”:

Com a “andropausa”:

Os sintomas da “andropausa” são, de certa forma, análogos aos da menopausa, incluindo aumento da proporção de gordura corporal e diminuição da massa muscular, perda de interesse sexual, dificuldade de ereção, queda de pelos, irritabilidade, insônia, depressão, além de osteoporose, declínio da memória e aterosclerose em longo prazo.
O tratamento para ambas as disfunções é, na maioria das vezes, baseado em terapia de reposição hormonal. O objetivo dessa reposição é promover uma manutenção da força muscular, densidade óssea, humor, libido e atividade sexual, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Entretanto, ela pode acarretar efeitos colaterais, como desenvolvimento de câncer de próstata ou de mama, insuficiência hepática, além da inconveniência de menstruação irregular nas mulheres.

Referências Bibliográficas:
Artigo “Deficiência hormonal no homem idoso” de Antonio Carlos Lima Pompeo, Alberto Tejada, Carlos Eurico Dornelles Cairoli.


Escrito por Matheus de Oliveira Andrade



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Rejuvenescimento celular X envelhecimento celular

            Procedimentos contrários que são capazes de trazer benefícios nos tratamentos de doenças. O primeiro retoma a juventude celular tornando-a semelhante às células embrionárias e a segunda transforma células cancerígenas em células senis. Então, será melhor envelhecer células ou rejuvenescê-las? Que vença a melhor!

            Recentemente foi publicado em uma revista especializada chamada Genes & Development uma pesquisa do Instituto de Genômica Funcional da Universidade de Montpellier, na França. O objetivo da equipe de cientistas era reverter as células de idosos em células-tronco. Isso poderia representar um tratamento alternativo de terapia regenerativa para tecidos e órgãos de pacientes idosos, uma vez que a chance de rejeição pelo sistema imune se reduziria significantemente.
            A comprovação da reversibilidade do envelhecimento celular começou com um problema: o limite da célula adulta para a reprogramação em célula-tronco é o estado chamado senescente, no qual há uma interrupção da multiplicação celular. Esse impedimento da proliferação é uma característica totalmente oposta às características de células-tronco, que possuem a telomerase – enzima sintetizadora de telômeros – muito ativa. A fim de superar essa barreira, os pesquisadores induziram, in vitro, a transcrição de genes que codificam alguns fatores de transcrição – OCT4, SOZ2, CMYC, KLF4, Nanog e Lin28. Esses fatores são proteínas que permitem a transcrição de genes para o prosseguimento do ciclo celular.
Fibroblastos, um dos tipos de células usadas na experiência dos pesquisadores francesas (Dr Gopal Murti/Science Photo Library/Latinstock)
            Dessa forma, fibroblastos de um doador de 74 anos foram estimulados à proliferação até o limite de multiplicação, ou seja, até atingir o estado de senescência celular. Reprogramaram, então, esses fibroblastos com os fatores de transcrição ativos e obtiveram como resultado células-tronco pluripotentes induzidas. Para corroborar ainda mais a experiência, realizaram os mesmos procedimentos em células de idosos de 92, 94, 96 e 101 anos; em todos comprovaram a eficiência do método.
            Por outro lado, o envelhecimento pode trazer benefícios ao impedir a formação de tumores em células cancerígenas, pois a senescência, como explicado, é caracterizado por interrupção da continuidade do ciclo celular. A partir de uma pesquisa realizada pela Harvard Medical School, nos EUA, descobriu-se que a inibição de um oncogêne – o Skp2 – provoca um envelhecimento precoce, o qual leva a célula à morte e impede a formação de tumores.
Estrutura tridimensional da proteína Skp2, que ajuda a degradar outras proteínas que inibem a progressão do ciclo celular (arte: Wikimedia Commons).
            A experiência foi realizada em ratos que haviam desenvolvido câncer de próstata. Em um grupo de roedores foi promovida a modificação de seu DNA - gene Skp2 bloqueado - e em outro grupo nada foi alterado. Como resultado, verificou-se que os modificados não apresentaram tumores, além de terem suas células envelhecidas precocemente, já o grupo normal apresentou tumor.
            Outra observação dos cientistas foi que esse efeito de supressão de gene é o mesmo verificado ao submeter os ratos a uma droga contra o câncer, denominada MLN4924. Porém, ao contrário da droga, a modificação gênica não promove efeitos colaterais.
              Se antes pensávamos que envelhecimento celular só promovia a degradação, agora foi comprovado que pode salvar vidas. Esse fato torna mais complicado a definição de uma resposta para a pergunta do início. No entanto, considerando que ambas possuem perspectivas positivas  em tratamentos de doenças tão comuns em idosos, declaro a luta empatada!


Referências bibliográficas:

Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

domingo, 20 de novembro de 2011

Victoza: o assunto do momento...

            Olá, caros leitores! Atendendo à determinação da coordenação desse projeto dos blogs de Bioquímica e Biofísica, essa postagem será destinada à abordagem de um tema em voga na mídia: o medicamento Victoza, seus usos e aplicações. Essa abordagem se relaciona com um assunto já discutido em uma postagem a qual destacava a síndrome metabólica e resistência à insulina em idosos. Por isso, não deixe de conferir as postagens anteriores!

Fórmula Estrutural Liraglutida
A liraglutida, comercializada com o nome de Victoza, é um fármaco lançado recentemente no Brasil para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2 (daí sua relação com a postagem que trata de síndrome metabólica que foi citada anteriormente). Ele possui ação semelhante ao hormônio GLP-1 (glucagon like peptide), que participa da modulação de insulina e glucagon, além de diversas outras funções no organismo (vide figura abaixo).

A própria bula do medicamento deixa claro que “a liraglutida tem duração de 24 horas e melhora o controle da glicemia, reduzindo a glicemia em jejum e pós-prandial de pacientes com diabetes tipo 2.” Mesmo assim, as propriedades sacietógenas do medicamento têm conferido uma nova finalidade para o uso  do fármaco: o emagrecimento “milagroso” . Alguns estudos publicados*, inclusive, demonstram a efetividade da liraglutida nessa ação promotora de emagrecimento.
Esse fato traz o questionamento acerca da legitimidade da indicação do medicamento para tal finalidade. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou, em nota, que “não reconhece a indicação do Victoza para qualquer utilização terapêutica diferente da aprovada e afirma que o uso do produto para qualquer outra finalidade que não seja como antidiabético caracteriza elevado risco sanitário para a saúde da população”.
As contraindicações para o uso da liraglutida com finalidades de emagrecimento fundamentam-se nos inúmeros efeitos colaterais que o uso do fármaco pode acarretar ao organismo, dentre os quais se podem citar: náuseas e diarreia (reações muito comuns), vômito, hipoglicemia, anorexia, dor de cabeça, refluxo gastresofágico (reações comuns), pancreatite e distúrbios da tireoide (reações incomuns). Além disso, por se tratar de um remédio que não surgiu há muito tempo, seus efeitos adversos ainda não foram totalmente avaliados.
Considerando os fatos anteriormente apresentados, o uso do liraglutida se mostra inadequado, até o momento, para finalidades de emagrecimento, já que o medicamento não foi submetido à aprovação das agências sanitárias para o tratamento de obesidade ou sobrepeso em indivíduos sem diabetes.
No caso dos idosos (que são o foco do blog!) com sobrepeso ou obesidade, o uso do Victoza para emagrecimento pode ser ainda mais prejudicial, considerando que os possíveis efeitos colaterais podem potencializar diversas disfunções fisiológicas que já acometem o organismo do idoso.
O jeito mesmo é praticar exercícios e ter uma alimentação balanceada, medidas estas que além de promoverem um emagrecimento saudável, são fundamentais para a saúde e o bem-estar do organismo!
Referências:
Bula do medicamento Victoza




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O controle do ciclo celular no envelhecimento

            O ciclo celular é um mecanismo que promove a duplicação e divisão celular. É dividido em duas fases:
·         Interfase: possui subdivisões denominadas G1, S e G2. Em G1 a célula mantém seu funcionamento normal com seu material genético em estado de eucromatina e heterocromatina, além de aumentar sua massa. A fase S corresponde à subdivisão na qual a célula duplica seus genes e começa a duplicação de centríolos. Já em G2, os centríolos terminam de ser duplicados e aparece o fuso mitótico. A célula confere se todo o DNA foi corretamente replicado e pode crescer mais se for preciso.
·       Fase M: corresponde a fase de divisão nuclear, conhecida por mitose, finalizando com a divisão citoplasmática, chamada de citocinese. Nessa etapa, células somáticas se renovam.



             O desenvolvimento do ciclo celular é submetido a diversos processos de regulação, a partir da fosforilação e da desfosforilação de proteínas específicas para o prosseguimento das fases. A proteína p53 – proteína supressora de tumor –  é uma reguladora no ponto de checagem de G1, ou seja, quando identifica erro no DNA, ela impede que a célula continue seu ciclo até o reparo desse dano.
           
Como a p53 atua?
molécula de p53
            Em células sem dano, a proteína p53 se encontra instável ligada à uma proteína denominada Mdm2, que é uma ubiquitina-ligase. Dessa forma, a p53 é ubiquitinizada e direcionada para proteassomas, onde será degradada pelas proteases desse tubo.
            Com o dano no DNA, é induzida a fosforilação da p53 e a redução da ligação desta molécula com a Mdm2. A partir disso, a concentração de p53 aumenta e esta estimula a transcrição do gene p21, o qual codifica uma proteína inibidora de complexos ciclinas-Cdks. As proteínas Cdks – cinases dependentes de ciclina – funcionam no ciclo fosforilando proteínas-alvo, ativando-as. Porém as próprias Cdks só serão ativadas quando associadas às ciclinas, que são proteínas cujas concentrações variam durante o ciclo e servem para fosforilar as Cdks. Assim, se os complexos de ciclina e Cdk - mais precisamente G1/S-Cdk e S-Cdk – estão bloqueados, a célula não consegue fosforilar a proteína pRb que não libera o fator de transcrição acoplado à ela.
            Nesse momento, os processos de reparo do DNA entram em ação ou a célula é levada a morte por apoptose. Se houver mutação do gene da p53, esse célula pode se tornar tumoral, uma vez que a função dessa proteína é impedir o acúmulo das mutações. Inclusive, em metade das neoplasias humanas, há erros no gene codificador da p53.

            
No envelhecimento...
            Todo cromossomo possui em suas extremidades repetições da sequência de bases [5’ – TTAGGG – 3’], formando um segmento de DNA terminal de aproximadamente 10kb, chamado de telômero. Os telômeros servem para estabilizar as macromoléculas cromossômicas, evitando sua degradação por nucleases, impedindo fusões com outros cromossomos, permitindo a completa replicação do DNA, entre outras funções. Porém, a cada divisão celular, pedaços dos telômeros são perdidos. Com o passar dos anos, portanto, os telômeros encurtam e esse encurtamento é um fator indutor da fosforilação da p53. Ou seja, com o envelhecimento nossas células interrompem o ciclo celular em G1, impedindo a renovação celular e modificando, com isso, o microambiente dessas células.
            Uma evidência da relação do encurtamento de telômeros à velhice foi apresentada por uma pesquisa conduzida pela pesquisadora Elizabeth Blackuburn, nos anos 70. Nessa pesquisa, foi comprovado que os telômeros encurtavam durante os anos e que em indivíduos de idade acima da expectativa de vida média tinham telômeros mais compridos do que o considerado normal para as suas respectivas idades.


Referências bibliográficas:
Alberts, B.; Johnson, A; Lewis, J.; Raff, M.; Roberts, K.; Walter, P. Biologia Molecular da Célula– 4° edição traduzida – Porto Alegre: Artmed, 2004 ( páginas 997 – 1009)

Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Painéis do seminário

          Olá pessoal! Estes foram os painéis utilizados na nossa apresentação do seminário sobre "Bioquímica do Envelhecimento" realizado na UnB ( ICC, anfiteatro 2) no dia 26 de outubro. Cada integrante do grupo elaborou um painel englobando o eixo temático de suas postagens no blog. Eles podem ser úteis para que se tenha uma noção geral das principais abordagens feitas sobre o processo de envelhecimento neste blog, direcionando a leitura das postagens para aspectos mais relevantes do tema. É quase um "resumão" do blog, então façam bom proveito!


domingo, 13 de novembro de 2011

Resistência à insulina e síndrome metabólica em idosos

          Olá, caros leitores! Venho mais uma vez lhes falar sobre a disfunção metabólica que ocorre com o envelhecimento. O tema da vez é uma condição patológica associada ao metabolismo e com alta prevalência em idosos: a Síndrome Metabólica.
Os primeiros relatos condizentes à síndrome metabólica surgiram na década de 20, entretanto somente na década de 80, a partir do maior conhecimento do mecanismo de resistência à insulina, que suas características foram bem descritas e elucidadas.
Essa síndrome é um transtorno metabólico caracterizado por obesidade central, dislipidemia, hipertensão e hiperglicemia. Acredita-se que a condição de resistência à insulina seja o mecanismo central dessa síndrome, que tem como principais fatores de risco a má alimentação, hipertensão arterial sistêmica, consumo exagerado de álcool, tabagismo, sedentarismo,  hipercolesterolemia e sobrepeso, além de existir uma predisposição a partir de fatores genéticos.
Essa patologia ainda se mostra como sendo potencialmente perigosa na medida em que agrega relevante risco para a aquisição de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2, as quais são responsáveis por grande parte da morbidade e mortalidade dos dias atuais.
Para que se possa entender de forma clara e didática a causa primordial dessa síndrome, a resistência à insulina, é necessário conhecer o mecanismo de interação entre esse hormônio e nossas células. A figura abaixo ilustra esquematicamente como isso acontece:

O mediador da interação entre a célula e o hormônio é um receptor, o qual apresenta atividade de tirosina quinase. Sendo assim, com a ligação da insulina ao receptor, este sofre fosforilação nos resíduos do aminoácido tirosina. Isso promove a ativação da quinase do receptor e a fosforilação em tirosina de uma família de substratos do receptor de insulina (IRS). A transmissão do sinal do receptor ao efetor final se dá através de fosforilação e interações proteína-proteína. Com isso, há a translocação de vesículas contendo transportadores de glicose (GLUT 4) do conteúdo intracelular para a membrana plasmática, a ativação da síntese de glicogênio e proteínas e a transcrição de genes específicos
A condição de resistência à insulina ocorre por meio de disfunções no receptor e nos elementos envolvidos na sinalização intracelular. Sendo assim, há uma menor utilização de glicose pelos tecidos em resposta ao estímulo insulínico; em compensação ocorre a hiperinsulinemia na tentativa de estabilizar os níveis glicêmicos. O processo de degeneração celular próprio do envelhecimento acarreta tais disfunções, o que é um dos fatores para a alta prevalência de síndrome metabólica em idosos.
É sabido hoje que o envelhecimento da população promove um maior aumento dos índices de síndrome metabólica, devido aos hábitos e à tendência de predominância dos componentes da síndrome metabólica nos idosos. Esse fato está associado aos processos crônico-degenerativos característicos da senescência que dificultam a manutenção da integridade funcional e fisiológica, promovendo um dano gradual da capacidade de homeostase.
Já que a síndrome metabólica, como foi inicialmente apresentado, agrega maior risco para a aquisição de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2, é válido ressaltar a relação entre a prevalência de síndrome metabólica nos idosos e a gênese dessas doenças com o processo de envelhecimento.
É importante, portanto, que haja uma mudança de hábitos da população idosa, de modo que se evitem os fatores de risco inicialmente destacados, principalmente a má alimentação e o sedentarismo. Dessa forma, haverá uma menor prevalência da síndrome metabólica e de outras anormalidades metabólicas, garantindo que os nossos queridos idosos aproveitem mais, com saúde, a “melhor idade”.


Referências Bibliográficas:
Perez, Lisiane Marçal. Síndrome metabólica em idosos com vulnerabilidade social. Porto Alegre. PUCRS. 2010.
Zecchin, Henrique Gottardello; Carvalheira, José Barreto Campello; Saad, Mario José Abdalla. Mecanismos moleculares de resistência à insulina na síndrome metabólica. Unicamp. 2004.
 http://www.blogbrasil.com.br/terceira-idade-e-atividade-fisica/
http://eportuguese.blogspot.com/2010/09/semana-da-doenca-invisivel.html


Escrito por Matheus de Oliveira Andrade