quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Alterações Tireoidianas, Metabólicas e o Processo de Envelhecimento


A glândula tireoide é um importante componente do sistema endócrino, desempenhando papel fundamental na homeostase do organismo humano. Os principais hormônios sintetizados por essa glândula são a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4), ambos derivados do aminoácido tirosina e com iodo em sua constituição. Esses hormônios atuam sobre as células do corpo em geral, aumentando sua atividade metabólica. A regulação da atividade da tireoide é realizada pelo hormônio tireotrófico (TSH), produzido e secretado pela adenoipófise. 

Quando a tireoide não está funcionando adequadamente pode liberar hormônios em excesso (hipertireoidismo) ou em quantidade insuficiente (hipotireoidismo). As disfunções da tireoide podem ocorrer em qualquer pessoa, entretanto alguns grupos são mais suscetíveis a essas alterações. A população idosa destaca-se pelo aumento considerável da incidência de doenças tireoidianas, o que revela a correlação direta entre envelhecimento e esse déficit endócrino. Essa relação evidencia, ainda, particularidades características da disfunção metabólica inerente ao processo de senescência.
O envelhecimento pode influenciar a bioquímica hormonal de diversas formas, dependendo do órgão endócrino em questão. Sendo assim, três mecanismos fundamentais assumem destaque nesse processo de alteração hormonal: 1) o envelhecimento pode levar a uma alteração primária na disposição metabólica do hormônio que poderá implicar em uma alteração secundária paralela na produção do hormônio; 2) o envelhecimento pode estar associado a uma alteração primária no ritmo de produção do hormônio, com alteração em sua concentração plasmática; 3) o envelhecimento pode estar associado a alterações na resposta tecidual ao hormônio. Considerando especificamente os hormônios tireoidianos, algumas destas alterações mencionadas parecem ser operativas nos idosos.
Apesar da complexidade envolvida na avaliação dos hormônios da tireoide em idosos (devido a maior incidência de doenças e uso frequente de fármacos, que podem influenciar a dosagem dos hormônios), há inúmeros estudos e publicações que trazem dados concretos a respeito da relação entre envelhecimento e disfunção da tireoide, avaliando as implicações metabólicas.
Um desses estudos1 avaliou o aumento da prevalência do hipotireoidismo subclínico nos idosos. Essa patologia é caracterizada por níveis de TSH acima do padrão de referência, com uma tiroxina sérica livre normal. Um aspecto interessante dessa disfunção glandular é que ela pode ser vista de um ponto de vista benéfico, principalmente para aqueles muito idosos. Isso porque ela pode refletir uma resposta protetora aos efeitos do envelhecimento, em particular aqueles associados às alterações no metabolismo.
Outro estudo2 analisou as possíveis alterações decorrentes do envelhecimento em um grupo de 198 indivíduos com idade variando de 50 a 85 anos e 106 filhos com idade de 11 a 49 anos (grupo controle). Os níveis séricos de T3 e T4 livre foram significativamente menores nos indivíduos mais velhos quando comparados com os filhos. De modo semelhante ao estudo citado anteriormente, este estabeleceu que a correlação inversa dos níveis de T3 e T4 livre com a idade pode refletir uma adaptação à menor necessidade dos hormônios com o envelhecimento.
A disfunção metabólica inata aos idosos se manifesta de diversas formas e, como demonstrado anteriormente, as alterações a nível endócrino são parâmetros relevantes para a avaliação do modo como o organismo se comporta diante de tais mudanças corporais. As alterações hormonais que agem como resposta protetora aos efeitos do envelhecimento trazem, dessa forma, um novo panorama para o estudo e as pesquisas sobre envelhecimento no meio científico da contemporaneidade.

Referências Bibliográficas:
(1)  Artigo “Abordagem do hipotireoidismo subclínico no idoso”, de Giselle Rauen, Patrick Alexander Wachholz, Hans Graf, Maurílio José Pinto. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2011 jul-ago.
(2)  Artigo “Estudo da função tireoideana em uma população com mais de 50 anos”, de Suzan C. L. Mendonça e Paulo T. Jorge. Departamento de Clínica Médica, disciplina de Endocrinologia e Metabologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG.
http://www.anaesthetist.com/icu/organs/endocr/thyroid/Findex.htm#thyfx.htm (Acesso em 29/09/11) 
http://drcaiojr.site.med.br/index.asp?PageName=Tire-F3ide (Acesso em 29/09/11)                                                                                              

Escrito por Matheus de Oliveira Andrade

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Teorias sobre o papel da genética no envelhecimento

O acúmulo de danos e de perda de complexidade nas macromoléculas vitais é algo entropicamente favorável e inevitável, caracterizando o processo de envelhecimento. Entretanto, os organismos vivos são capazes de realizar reparos em suas macromoléculas danificadas por produtos nocivos do metabolismo e pelas perdas energéticas da célula. A abrangência dessa capacidade sofre influencia das características genéticas do indivíduo; o papel dessas características sempre intrigou muitos acadêmicos e, partindo-se de diversas bases teóricas e empíricas, foram elaboradas diversas teorias envolvendo a informação genética, a seleção natural e a senescência; aqui estão explanadas três delas:

Teoria da Senescência Programada:
De autoria do biólogo August Weismann (1891), essa teoria defende que o envelhecimento é um processo geneticamente programado, ou seja, um gene ou um conjunto de genes teria o papel de controlar o processo de perda de complexidade biomolecular, o qual desencadearia diversos mecanismos degenerativos característicos da senescência, como a disfunção de diversos complexos proteicos responsáveis pela manutenção do DNA.
O objetivo desses programas seria o controle do tamanho de uma população ou da substituição de gerações. Porém, estudos evidenciam que o organismo é programado para sobreviver; testes com ratos que morrem, em média aos dez meses no meio natural podem sobreviver até três anos em ambiente protegido. Além de indicar o papel de reparo molecular vital do material genético, esse teste indica que os fatores extrínsecos são mais importantes para o controle populacional do que os intrínsecos.

Teoria do Soma Descartável:
Descrita por Hamilton (2002), ela se baseia no controle metabólico gerado pela resposta gênica ao ambiente. É necessário entender, primeiramente, que a maioria dos organismos morrem jovens no ambiente devido a causas extrínsecas, como fome, frio e predação; assim, para garantir a perpetuação da espécie, a maior parte dos recursos energéticos adquiridos do meio é direcionada para o crescimento, ou para a reprodução, com isso, o investimento energético direcionado para mecanismos responsáveis pelo reparo de danos sofridos pelas macromoléculas vitais é menor. Experimentalmente foi observado que o oposto ocorre em ambientes protegidos.

Teoria do Pleiotropismo Antagônico:
Idealizada por Idealizada por George Willians (1957), defende a participação de genes que atuam sobre várias caraterísticas (pleiotropismo); um grupo desses genes apresentaria um efeito positivo sobre a sobrevivência ou sobre a reprodução de um indivíduo, porém, em idades mais avançadas codificaria uma característica deletéria, como o surgimento de defeito na cadeia de síntese de proteínas afetadas pelo estresse oxidativo do organismo.



Referências bibliográficas:
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/por_que_nao_vivemos_para_sempre__5.html

Escrito por: Luis Octavio Hauschild

sábado, 24 de setembro de 2011

I Jornada Científica das Ligas Acadêmicas de Geriatria e Gerontologia do DF

   Participamos nos dias 23 e 24 de setembro de 2011 da I Jornada Científica das Ligas Acadêmicas de Geriatria e Gerontologia do DF, no intuito de agregar mais informações e mais novidades relativas a essa área a este blog.
   Nesse evento, inicialmente, foi ressaltada a importância do conhecimento do processo de envelhecimento, dado o crescimento da população nonagenária e centenária nesses últimos anos. Através das palestras expandimos nossos conhecimentos a respeito dos fatores que podem alterar o envelhecimento, ocasionando, então, uma série de complicações, dentre as quais se destacam aquelas conhecidos como gigantes da geriatria: incontinência urinária e/ou fecal; insuficiência cerebral; instabilidade postural e quedas; imobilidade; e iatrogenia.
   A geriatria foi abordada tanto de um aspecto mais subjetivo e sociopsicológico, porém de grande importância, no que se refere à relação idoso e cuidador e à relação do idoso com o ambiente no qual está inserido, quanto de um aspecto mais microscópio e bioquímico. A abordagem bioquímica focou a importância de uma dieta elaborada para atender às necessidades do idoso, e os efeitos de alguns fármacos sobre o idoso, podendo até, quando mal administrados, gerar um quadro de iatrogenia, resultando, por exemplo, em uma alteração de pH estomacal, que afetará a absorção de algumas substâncias e, consequentemente, alterará as reservas homeostáticas.
   Para que todas essas informações sejam apresentadas de forma clara e eficiente e, consequentemente, sejam úteis, o conhecimento adquirido nessa jornada científica será apresentado ao longo de nossas postagens, com o intuito de atingir, da melhor forma possível, o principal objetivo deste blog: a difusão do conhecimento.


“É indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isso não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos para regularmos a vida, e nada há de mais justo”. (Blaise Pascal)
  

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Envelhecimento do tecido ósseo

A-Osso normal ; B-Osso osteoporótico
     Primeiramente, uma breve introdução sobre o tecido ósseo. Esse tecido é constituído por dois tipos celulares básicos: osteoblastos e osteoclastos. Sendo que os osteoblastos produzem a matriz óssea e os osteoclastos realizam a reabsorção óssea. A atividade desses dois tipos celulares se relaciona em um contínuo processo de deposição e reposição mineral, fazendo com que o osso esteja sendo renovado e remodelado a todo momento. Esse equilíbrio entre a ação dos osteoblastos e a ação dos osteoclastos é regulado por um sistema bem complexo, que envolve hormônios e até mesmo fatores comportamentais, e pode ser pela idade.
     O tempo vai passando... e, quando menos se espera, chega-se aos 35 anos, a idade do pico de massa óssea. A partir daí a taxa de formação óssea (atividade osteoblástica) é praticamente estabilizada e a de reabsorção óssea (atividade osteoclástica) vai aumentando. Por uma matemática bem simples, é fácil perceber que a estrutura óssea ficará comprometida. Esse quadro é mais acentuado ainda na vovó pós-menopausada, em que a baixa concentração de estrogênios facilita a ação dos osteoclastos. 
    Além do aumento da reabsorção óssea não acompanhado pelo aumento da formação, a hipovitaminose D compromete a estrutura óssea do idoso, tornando-o propício à osteoporose, por exemplo. A vitamina D é responsável pela absorção de cálcio e de fósforo a nível de intestino grosso e pela deposição desses minerais no osso quando estão em elevada concentração sanguínea. Essa vitamina é obtida através de uma alimentação adequada associada à produção endógena da pele mediante exposição solar. No jovem, quase toda toda vitamina D (aproximadamente 80%) pode ser sintetizada a partir do 7-dehidroxicolesterol da pele; contudo, alguns fatores contribuem para que esse rendimento seja menor no idoso: a pele do idoso quando submetida à radiação solar produz menos vitamina D, quando comparada à produção de vitamina D em um jovem submetido a um período igual de radiação solar; e o idoso se expõe menos ao sol, ficando mais em interiores, seja da própria casa ou do hospital, algumas vezes até mesmo por sua mobilidade reduzida. Outra característica do envelhecimento que compromete o tecido ósseo é a menor produção da enzima 1-α-hidroxilase renal, que, como mostra a figura acima, é responsável pela formação da forma mais ativa da vitamina D, o calcitrol  [ 1,25 (OH)2D]. 
   Devido a todas essas alterações decorrentes do processo de envelhecimento, os idosos passam a depender mais ainda da vitamina D obtida na alimentação. Óleos de fígado de peixe e peixes de água salgada( sardinha e salmão, por exemplo) são as fontes naturais mais ricas em vitamina D, seguidos pelo leite, ovo e carne, que contêm pequenas quantidades. Porém,estudos revelaram que muitos idosos possuem uma dieta deficiente em vitamina D. Dessa forma, os ossos do idoso ficam mais suscetíveis a fraturas, que então diminuem sua mobilidade e o levam a ficar mais tempo em interiores, diminuindo a exposição solar e , consequentemente, a produção de vitamina D, aumentando o quadro de fragilidade óssea.

   Na tentativa de promover um envelhecimento mais saudável, além do desenvolvimento de uma dieta mais saudável e que atenda às necessidades do idoso, são recomendadas atividades ao ar livre, aumentando a exposição ao sol, e utilizados suplementos vitamínicos, mas sob a supervisão de um médico e/ou nutricionista, haja vista o perigo de quadros de hipervitaminose.






Referências bibliográficas:


Postado por Luís Fernando Amarante Fernandes

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ALZHEIMER E A HIPÓTESE COLINÉRGICA.
O envelhecimento é um processo universal e natural, no qual o organismo humano perde o seu vigor e seus sistemas biológicos entram em declínio. No sistema nervoso, a redução da massa encefálica, associada a perda neuronal, acarreta diversas conseqüências, entre elas a degeneração cognitiva, com comprometimento da memória e, muitas vezes, da autonomia do indivíduo.
Entre os casos de perda da cognição está a Doença de Alzheimer (DA), neurodegenerativa progressiva que provoca demência, e na maioria dos casos ocorre após os 65 anos, salvo exceções em que mutações provocam a manifestação precoce. A doença se associa a formação de placas senis e de emaranhados neurofibrilares. Estes fenômenos relacionam-se respectivamente à deposição de beta-amilóide (Ab) e a alterações do estado de fosforilação da proteína Tau, processos que estão associados à redução da neurotransmissão colinérgica.
A proteína Tau é componente essencial dos microtúbulos, onde se encontra em estado polimerizado. A estabilidade do polímero depende do grau de fosforilação da Tau, tornando-se mais instável quanto mais fosforilada a proteína. Sendo assim, a hiperfosforilação da Tau relaciona-se com a diminuição da estabilidade do citoesqueleto, ocasionando prejuízos estruturais e funcionais, favorecendo a morte celular devido à formação de lesões intraneuronais, os emaranhados neurofibrilares.
 Já o beta-amilóide (Ab), depositado nas placas senis, ou neuríticas, e na parede dos vasos sanguíneos, o que caracteriza uma lesão extracelular. É produzido pela clivagem da proteína precursora do amilóide (APP) por ação da enzima beta-secretase, em detrimento da ação mais fisiológica da alfa-secretase, que dá origem ao fragmento APPs. As fibras de Ab têm diversos efeitos neurotóxicos, dentre eles a alteração do crescimento de neuritos, apoptose e perda da homeostase do íon cálcio, que ocorrem em associação a uma presumível perda funcional do metabólito secretado (APPs) da proteína precursora do amilóide (APP).
 A região denominada nucleus basalis de Meynert é a fonte produtora da enzima colina acetiltransferase (CAT) que atua em estruturas do sistema nervoso central (formação hipocampal, córtex cerebral e amígdala, dentre outros). Nessas regiões ela, a enzima, catalisa a reação de síntese da acetilcolina (ACh) a partir da colina e da coenzima A. Após sua formação a ACh é liberada na fenda sináptica, onde poderá ser acoplada a dois tipos de receptores – muscarínico e nicotínico. A ACh restante é degradada pela enzima acetilcolinesterase (AChE) na fenda sináptica em colina e acetato, que são as bases de sua formação.
Na Doença de Alzheimer ocorre uma atrofia do nucleus basalis de Meynert provocando uma diminuição na síntese da colina acetiltransferase (CAT) e, consequentemente, da acetilcolina.  Essa redução da neurotransmissão colinérgica pode favorecer processos de formação do beta-amilóide e a hiperfosforilação da proteína Tau. Existem cinco subtipos de receptores muscarínicos e dois deles, m1 e m3, estão acoplados á proteína G(guanosina-3-fosfato)e,subsequentemente, às fosfolipases A2 e C. Essa fosfolipase C cliva o fosfatidilinositol-4,5- bifosfato em dois mensageiros, diacilgicerol e inositol-1,4,5-trifosfato, responsáveis pela ativação da proteinaquinase C e liberação de cálcio a partir do estoque intracelular.Esses processos desencadeiam cascatas de eventos que acarretam a inativação das enzimas beta-secretase e glicogênio-sintase-quinase, responsáveis respectivamente pela formação beta-amilóide e pela fosforilação da proteína Tau, ocasionando retardamento e diminuição desses fenômenos.
Com base nessa relação entre o declínio na neurotransmissão colinérgica e a Doença de Alzheimer, diversos estudos estão desenvolvendo estratégias compensatórias, no intuito de retardar os efeitos da doença, buscando promover aumento dos níveis sinápticos de acetilcolina através, por exemplo, da inibição da enzima acetilcolinesterase.  Os aticolinesterásicos, inibidores da acetilcolinesterase na fenda sináptica, formam a classe terapêutica mais promissora na melhora dos sintomas cognitivos da Doença de Alzheimer. Como exemplos temos: Fisostigmina, Tacrina, Donepezil, Rivastigmina, entre outros. A maioria apresenta efeitos colaterais colinérgicos dose-dependentes a curto prazo, entretanto, como todos os estudos são recentes, os efeitos dessas drogas a longo prazo não foram determinados.

 Escrito por: Amanda Costa Pinto

FONTES:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832005000300005&script=sci_arttext
http://www.demneuropsy.com.br/detalhe_artigo.asp?id=167
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2000/RN%2008%2001/Pages%20from%20RN%2008%2001-3.pdf

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vitamina C no combate ao envelhecimento

Albert Szent-Gyorgyi
            Há 3 dias foi comemorado o 118° aniversário do prêmio Nobel da Medicina Albert Szent-Gyorgyi (no dia 16 de setembro), que isolou pela primeira vez a vitamina C. Em 1928, em um estudo sobre a relação entre a oxidação dos alimentos e a produção de energia, Szent-Gyorgyi isolou a vitamina C, a qual denominou de ácido hexurônico. Anos mais tarde, trocou esse nome por ácido L-ascórbico, devido sua influência na doença escorbuto. Aproveitando a proximidade com essa data comemorativa, vamos falar sobre a função mais conhecida dessa vitamina: seu poder antioxidante!
            O processo de envelhecimento está intimamente relacionado ao estresse oxidativo, que ocorre quando há um descompasso entre as concentrações de espécies reativas de oxigênio  (ERO) e dos agentes antioxidante. As EROs são radicais livres derivados do oxigênio capazes de reagir com macromoléculas celulares como proteínas, lipídios e ácidos nucléicos, causando danos nessas biomoléculas. Com o avançar da idade, esses danos, ao invés de corrigidos, passam a se acumular no meio celular. A teoria de radicais livres como agentes do envelhecimento, proposta em 1956, propõe justamente que essa degradação aleatória dos  tecidos pelas EROs são a causa da velhice. As EROs são produzidas nas células principalmente pela redução parcial do oxigênio na fosforilação oxidativa, a qual ocorre nas mitocôndrias.
            Uma forma de proteção do organismo contra esses efeitos degradantes dos radicais livres, são as substâncias antioxidantes. Existem dois tipos de antioxidantes: os enzimáticos e os não-enzimáticos. A vitamina C é classificada como não-enzimática, assim como a vitamina E e carotenóides. No meio intracelular, a vitamina C se encontra como íon ascorbato com grande poder redutor, sendo oxidado a ácido dehidroascórbico, ao atuar como antioxidante.
Estrutura química das formas do ácido ascórbico: à esquerda atua como
agente redutor e à direita, já oxidado.

            O ácido ascórbico reage fortemente com o radical superóxido e o radical peroxila. Além de ser capaz de bloquear espécies reativas originadas por radiação UV na pele. Porém, não se pode ingerir essa vitamina de modo indiscriminado, uma vez que, em doses elevadas, ela pode atuar como pró-oxidante.
Desse modo, a vitamina C e os outros antioxidantes atuam protegendo o organismo de efeitos como:
·         Oxidação de membranas ou lipoperoxidação – que prejudica a eficiência da membrana plasmática como camada fluida e semipermeável. Essa é uma reação em cadeia provocada por um radical livre, que torna instável um ácido graxo de membrana. Esse ácido graxo é um potencial oxidante de outros componentes da membrana plasmática, inclusive outro ácido graxo.
·         Oxidação de proteínas – provocando, entre outros danos, erros na estrutura enzimática, resultantes de modificações em resíduos de aminoácidos específicos, ou mesmo a partir da polimerização e fragmentação da proteína. Além dos radicais livres serem capazes de desnaturar a macromolécula, facilitando sua hidrólise.
·         Oxidação de ácidos nucléicos – de forma geral, as EROs causam quebra na dupla fita e alterações tanto nas bases nitrogenadas quanto nas proteínas associadas ao DNA (histonas). Isso compromete a transmissão das informações gênicas.

Fontes:
Marzzoco, A; Torres, B.B.; Bioquímica Básica; 3° edição; São Paulo, SP; 2007 (páginas 141-142)

Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

sábado, 17 de setembro de 2011

Envelhecimento cutâneo

  O envelhecimento é um processo natural e uma de suas manifestações mais evidentes é o envelhecimento cutâneo. Para entender esse processo é necessário, primeiramente, se ter uma noção a respeito da constituição da pele, que é formada, basicamente, por derme e epiderme.

  A epiderme é constituída por camadas de células achatadas e justapostas. Sua camada mais interna, o epitélio germinativo, é responsável pela produção de novas células, que empurram as mais velhas em direção à superfície do corpo. À medida que essas células vão se exteriorizando, se tornam repletas de queratina e morrem, constituindo um revestimento resistente ao atrito e impermeável à água.

  A derme, camada logo abaixo à epiderme, contém vasos sanguíneos, nervos, fibras elásticas, que conferem elasticidade, e fibras colágenas, que conferem resistência. Sendo o fibroblasto a célula responsável pela produção dessas fibras.

  Agora, vamos ao envelhecimento propriamente dito. Uma das maiores características do idoso é, sem dúvida, aquela pele enrugada e seca. Isso acontece porque com o envelhecimento a atividade dos fibroblastos é reduzida, uma vez que o processo oxidativo que ocorre constantemente em nosso organismo diminui a capacidade de recuperação dessas células, e, desta forma, menos fibras elásticas e fibras colágenas são produzidas. A partir desse conhecimento é possível entender outra coisa: por que alguns idosos reclamam quando são abraçados? Como já foi dito, a atividade dos fibroblastos no idoso está reduzida e, assim, há uma diminuição da espessura da derme, fazendo com que os nervos fiquem bem próximos à epiderme e a pele altamente sensibilizada. Uma outra possível explicação é que esse idoso não goste de você, afinal velhinho é velhinho, e não urso de pelúcia, então solte-o e vá fazer alguma coisa boa, como ler este blog.
  O envelhecimento da pele pode ser acelerado, e também agravado pela exposição à radiação solar e pelo fumo. Explicando de uma forma bem simples, a radiação solar causa mutações genéticas no DNA mitocondrial, aumentando a produção de radicais livres; chega um momento em que há uma sobrecarga de radicais livres, superando a quantidade de anti-oxidantes, resultando na senescência e na consequente diminuição da atividade das células, como dos fibroblastos, por exemplo.
    Já o agravamento pelo fumo acontece porque cigarro não é bom. Simples desse tanto. Mas, bioquimicamente falando, a nicotina está envolvida na produção de uma enzima que destrói os fibroblastos, diminuindo a síntese de matriz extracelular e provocando a redução da espessura da derme; bloqueia ligações da elastina, tornando a pele menos flexível; e diminui o calibre dos vasos sanguíneos, comprometendo a oxigenação e nutrição celular.

  Enquanto alguns ganham dinheiro vendendo algo que compromete a estrutura  da pele, como o cigarro, outros decidiram ganhar dinheiro reparando os danos da pele, surgiram assim os cosméticos. Apesar da elevada quantidade de cosméticos que prometem retardar o processo de envelhecimento cutâneo, são poucas as substâncias que têm a sua eficácia comprovada, como, por exemplo, a vitamina A, a vitamina C e os alfa-hidroxiácidos . De forma geral, estes atuam estimulando o crescimento e a diferenciação de fibroblastos, a formação de colágeno, a produção de matriz extracelular e a melhora da qualidade das fibras elásticas. Porém, apenas a presença dessas substâncias não é o bastante para se garantir a eficiência do cosmético. Isso porque, por exemplo, os produtos comercializados têm, em geral, concentrações muito abaixo daquelas necessárias ou, podendo ainda, estar em concentrações que provoque irritações de pele.

  Dessa forma, é importante que se tenha um conhecimento básico à respeito da estrutura da pele e dos efeitos de alguns processos, decorrentes dos hábitos de vida, sobre elementos estruturais da pele. Pois assim, o envelhecimento cutâneo pode ser reconhecido como algo natural e acontecer de forma mais saudável e segura.





Fontes









Escrito por Luís Fernando Amarante Fernandes


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Fosfatase Alcalina e o Envelhecimento

Figura I



 A fosfatase alcalina é uma enzima que desempenha diversas funções no âmbito metabólico do organismo humano. Ela é uma glicoproteína dimérica (vide Figura I) que catalisa a hidrólise de ésteres monofosfatos e age em meio alcalino (daí a sua denominação), tendo pH ótimo próximo de 10 (vide Figura II).




Figura II
     Essa enzima existe em muitos tecidos e abrange uma gama de seres vivos, o que indicia que ela exerce funções de suma importância para o metabolismo. Apesar disso, seu papel fisiológico não está totalmente elucidado de forma clara. É sugerido atualmente que há uma associação entre a fosfatase alcalina e sistemas de transporte, como o transporte intestinal de lipídios, renal de fosfato, além da modulação da atividade de glicoproteínas.
     No organismo humano, essa enzima é encontrada sob quatro formas fundamentais: a tecidual não específica (FAtne), a intestinal (FAint), a placentária (FApl) e a das células germinais. A FAtne abrange praticamente todos os tecidos, sendo, contudo, mais abundante nos ossos, rins e no fígado. As três outras isozimas são mais específicas, sendo que a designação de cada uma delas reflete o local de expressão mais elevada. Isso, porém, não significa que essas três últimas formas absolutamente não possam ter ação em outros tecidos.
     A atividade de cada uma das isozimas da fosfatase alcalina está relacionada a condições fisiológicas e patológicas. Por exemplo, a FAtne de origem óssea aumenta na osteoporose, no raquitismo, na osteomalácia e na doença de Paget; a de origem hepática aumenta em situações de obstrução biliar. É justamente devido a estas e outras propriedades que o doseamento da atividade dessa enzima é utilizado na bioquímica clínica há mais de 70 anos no diagnóstico de situações fisiopatológicas.
     Excedendo a aplicação no simples diagnóstico clínico, a atividade da fosfatase alcalina pode estar relacionada a um processo intrínseco à existência humana: o envelhecimento. Esta é a base dos estudos realizados pelos pesquisadores M. R. Negrão, M. J. Martins, E. Ramos, H. Barros, C. Hipólito-Reis, I. Azevedo da Universidade do Porto (Portugal).
     No trabalho desses pesquisadores foram caracterizados os níveis séricos da atividade da fosfatase alcalina humana de acordo com a idade e o sexo. A atividade da enzima foi determinada em 203 indivíduos sadios, residentes na área do Hospital de S. João, com idade igual ou superior a 40 anos.
     No grupo dos homens (87 indivíduos), a fosfatase alcalina total (FAtotal) aumentou acentuadamente da quinta para a sexta década, tendo estabilizado nas faixas etárias seguintes. A FAtne aumentou sempre com a idade, embora o aumento tivesse sido mais acentuado da quinta para a sexta década. A FAint aumentou da quinta para a sexta década, diminuindo em seguida.
     No grupo das mulheres (116 indivíduos), a FAtne aumentou sempre com a idade, embora o aumento tenha sido mais acentuado após os 69 anos. A FAtotal também aumentou com a idade, embora se note um patamar entre os 59 e os 69 anos de idade devido ao fato de a FAint estabilizar naquela faixa etária.
     Para a população total, para o grupo dos homens e para o grupo das mulheres, observou-se uma correlação positiva significativa entre a FAtotal e a idade (vide Quadro I).
     Na literatura, encontram-se dados imprecisos, e por vezes contraditórios, sobre a relação entre a atividade dessa enzima e o avanço da idade. Enquanto alguns estudos afirmam não haver relação entre a atividade da fosfatase alcalina e a idade, outros corroboram os resultados da pesquisa supracitada. Há trabalhos realizados na Austrália, em 1986, e nos Estados Unidos, em 1993, com cerca de 10000 e 6000 indivíduos, respectivamente, que chegaram aos mesmos resultados: a atividade da fosfatase alcalina aumenta em ambos os sexos à medida que se envelhece.
     A importância primordial desse estudo no que se refere ao processo de envelhecimento está relacionada ao fato de que há uma correlação negativa entre a atividade da fosfatase alcalina e a taxa metabólica. Por consequência, pode haver uma relação direta entre a disfunção metabólica própria do processo de envelhecimento e atividade de tal enzima. Enfim, o uso da atividade da fosfatase alcalina como biomarcador de idade e as suas relações com o metabolismo trazem novos parâmetros e expectativas futuras para os estudos e para a compreensão mais holística da disfunção metabólica e o processo de envelhecimento.

Referências Bibliográficas:
Artigo “Fosfátase Alcalina Sérica Humana e Envelhecimento”. M. R. Negrão, M. J. Martins, E. Ramos, H. Barros, C. Hipólito-Reis, I. Azevedo. ACTA Médica Portuguesa 2003; 16: 395-400.

Escrito por: Matheus de Oliveira Andrade.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Aumento da entropia, envelhecimento e morte

Atualmente, uma das explicações mais aceitas para as mudanças causadas pelo envelhecimento consiste no acúmulo de eventos acidentais de perda irreparável da fidelidade molecular. A principal evidência dessa teoria reside no fato de que tudo no universo muda ou envelhece no espaço-tempo sem uma programação prévia de estruturas informacionais, como os genes.
Nesse contexto foi inserida a definição de “entropia”, a qual, respeitando a 2ª Lei da Termodinâmica, é a tendência natural de tudo no universo passar de um estado mais energético para um menos energético. A organização não é, portanto, uma tendência, pois o nível de menor energia geralmente consiste na forma em que existem mais possibilidades de combinações no sistema analisado; assim, o maior número de possibilidades está presente no conjunto unidades básicas da estrutura complexa separados aleatoriamente, ou tecnicamente falando, no maior número de microestados ou de conformações possíveis.
Organismos vivos e inanimados diferem, nesse ponto, pela capacidade das células e dos organismos de produzir organização, ou seja, de contornar a tendência de perda de complexidade. Eles podem fazer isso pois são sistemas abertos e, devido a isso, trocam energia e matéria com o ambiente, usando energia oriunda da luz ou dos alimentos para investir no aumento e na manutenção de sua complexidade, a qual pode ser observada nas diversas estruturas biomoleculares presentes na química da vida.
Porém, o emprego do metabolismo na produção de energia gera, invariavelmente, produtos potencialmente nocivos e perdas energéticas, os quais resultam na inativação de biomoléculas ou na disfunção da atividade molecular. Esses produtos e essas perdas não podem ser evitados, mas a seleção natural favoreceu indivíduos capazes de reparar ou reconstruir estruturas que forem danificadas através do uso da energia até o período reprodutivo.
Passado esse período de perpetuação da espécie as biomoléculas continuam sofrendo erros, porém, as estruturas responsáveis pelos reparos também acumularam falhas e as moléculas complexas cedem, gradativamente, à entropia, caracterizando o processo de envelhecimento que é acompanhado pela menor eficiência dos mecanismos orgânicos intrínsecos à vida.
Muitos acreditam que principal papel da genética, nesse contexto, envolve a hereditariedade de características que definam se o individuo possui moléculas mais vulneráveis ou não à tendência de perda de complexidade nas células e nos outros compostos orgânicos. Pode-se concluir, portanto que os genes possuem uma influência sobre a longevidade, mas não têm como função principal a programação do envelhecimento.
A compreensão das causas iniciais do envelhecimento é crucial para o melhor entendimento do funcionamento dos processos posteriores responsáveis pela degradação molecular e celular do organismo em idade senil. Esse conhecimento é fundamental para a pesquisa e o desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos melhor direcionados para conter o processo degenerativo sofrido pelo idoso. 

Referências bibliográficas:
Artigo: Hayflick L (2007) Entropy Explains Aging, Genetic Determinism Explains Longevity, and Undefined Terminology Explains Misunderstanding Both. PLoS Genet 3(12): e220. doi:10.1371/journal.pgen.0030220
Lehninger Princípios de Bioquímica; Nelson,David L. and Cox, Michael M., terceira edição

Escrito por: Luis Octavio Hauschild


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pré-Projeto

O envelhecimento é um processo natural e irreversível, no qual a pessoa muda em função do tempo. Durante esse processo, ocorrem modificações bioquímicas, morfológicas, funcionais e psicológicas. As alterações acontecem diminuindo a adaptação do idoso ao meio ambiente, sua vulnerabilidade aumenta, o que ocasiona maior propensão a doenças.
Diversas teorias foram formuladas a fim de explicar o fenômeno do envelhecimento. Uma das mais aceitas é explicada a partir do estresse oxidativo. Esse fenômeno é um desequilíbrio no organismo e ocorre quando as defesas antioxidantes se tornam incapazes de neutralizar os agentes oxidantes (radicais livres), por conseguinte causam danos em biomoléculas – como proteínas, lipídeos e DNA. Assim, pode provocar a degradação celular, disfunção metabólica e cognitiva, entre outros.
Explicaremos resumidamente, sob uma visão bioquímica, como age um radical livre, como eles se formam, quais são seus efeitos no idoso, quais as defesas naturais do organismo, e o que pode ser feito para reduzir seus efeitos visando uma maior expectativa de vida e um melhor aproveitamento da mesma.
Acompanhando esse contexto de envelhecimento celular e de degradação bioquímica, explanaremos como esses fatores influenciam no processo de degeneração tecidual em idosos, destacando os processos de alteração sofridos pela pele e pelo sistema articular característicos da terceira idade, os quais envolvem aspectos decorrentes do próprio processo de envelhecimento e da ação deletéria do meio, a qual pode ser exemplificada pelos efeitos da luz solar sobre a pele.  
É importante abordar também as disfunções metabólicas que ocorrem com o avanço da idade. Assim, pretendemos explorar as possíveis causas, efeitos e tratamentos de doenças metabólicas como obesidade, hipertensão, diabetes, resistência insulínica e hipotireoidismo. Serão explanados, também, os efeitos do abandono do tabagismo ou alcoolismo e a suspensão ou redução de determinados fármacos que pode reverter parcialmente alterações metabólicas secundárias.
Outro grande problema enfrentado pelas pessoas senis é a gradativa disfunção cognitiva. Tendo isso em vista, o grupo pretende explorar as bases bioquímicas e celulares que envolvem os sintomas cognitivos e comportamentais de queda do desempenho da memória observada na idade avançada e na doença de Alzheimer que, apesar de não estarem elucidadas por completo, oferecem um ponto de partida para a compreensão das modificações que surgem no decorrer do envelhecimento normal e patológico.
Mantendo foco na doença de Alzheimer, explanaremos uma das teorias mais aceitas para explicar a patologia: a hipótese colinérgica, a qual afirma que a doença ocorre devido a falha de mecanismos colinérgicos no lobo temporal e outras regiões do cérebro. Essa teoria é a base do principal tratamento da doença, o qual explicaremos posteriormente.
O objetivo do grupo é explicar da forma mais didática possível como envelhecemos, associando essa etapa da vida com os processos bioquímicos que ocorrem no organismo. Para isso, os integrantes dessa equipe irão participar da I Jornada Científica das Ligas Acadêmicas de Gerontologia e Geriatria do Distrito Federal que ocorrerá nos dias 23 e 24 de setembro na Universidade de Brasília, de modo que possamos nos interar das tendências atuais de abordagem do processo de envelhecimento sobre diversos focos.
E como estratégia de explanação lançaremos mão de recursos informativos no blog como vídeo, imagem e gráficos, escolhidos no intuito de incentivar o interesse do leitor e de permitir a melhor compreensão e fixação do assunto.