segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Watch N' Ask

Pergunta do grupo de colesterol:

Se houvesse certo tipo de inibição de fatores intrínsecos e mutações gênicas a favor de um maior rendimento no sistema de reparo, ocasionaria mudanças? Como seriam essas mudanças?

            A relação do envelhecimento e a falha do sistema de reparo do DNA é estabelecido a partir do acúmulo de danos no material genético que acarretará uma perda da homeostasia celular, além da perda de sua funcionalidade e integralidade. Essas alterações resultam em doenças como câncer, Alzheimer, surdez e osteoporose. Outros efeitos causados por danos no DNA são a perda de pigmentação capilar, pele ressecada e com pouca elasticidade e a diminuição da coordenação. Desse modo, se houvesse uma forma de manter o sistema de reparo de material genético em pleno funcionamento, esses problemas citados teriam suas freqüências diminuídas na população. Nossas células estariam mais protegidas. Isso não quer dizer que não ficaríamos velhos, mas sim que envelheceríamos melhor, sem tantos problemas relacionados a pessoas senis. Somente 30% da quantidade de anos vivida é determinado pelos genes, os outros 70% são relativos à nossa forma de vida.
             No estudo promovido pelo professor Jan Hoeijmakers – comentado na postagem “genes da velhice” – comprovou ser possível manipular o processo de velhice em camundongos. Os cientistas verificaram que quanto maior o número de mutações que acarretavam falhas no reparo de DNA, mais precocemente o camundongo envelhecia. Além disso, também conseguiram manipular o envelhecimento em apenas um órgão – o cérebro. Enquanto os outros órgãos do se desenvolviam normalmente, o cérebro mutado, envelhecia rapidamente. Portanto, a relação inversa também é verdadeira, quanto maior a eficiência no reparo, mais anos podemos acrescentar em nossas vidas.
            Há pessoas com um constituição genética que favorece a correção dos genes. Essas pessoas são às que chegam a casa dos 100 anos de idade. Em um estudo chamado New England Centenarian Study, 1055 idosos americanos (entre 95 e 119 anos) tiveram seus materiais genéticos analisados. Os cientistas concluíram que esses idosos compartilhavam 150 variações gênicas; dessas combinações, 19 estariam relacionadas ao aumento da expectativa de vida. Algumas das 19 variações diminuem a produção celular de radicais livres; outras possuem genes que aumentam a eficiência do sistema de reparo. Assim, os centenários conseguem atrasar a manifestação de doenças características da velhice e, com isso, vivem mais.

Referências bibliográficas:
http://www.methodus.com.br/artigo/511/os-segredos-da-vida-longa.html
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/pdf/revolucao_genomica/jan.pdf
http://diariodabella.wordpress.com/tag/saude/
http://vivendobemnamelhoridade.blogspot.com/2011/02/dan-buettner-como-viver-para-ter-mais_05.html
http://www.metrolic.com/on-bin-ladens-dna-match-168547/

domingo, 30 de outubro de 2011

Watch N' Ask

 Pergunta do grupo de Exercício:

Por que os cremes anti-age não funcionam de fato? Existe algum remédio para os danos causados pela "melhor idade"?

  Há um grande número de produtos cosméticos no mercado, sendo que muitos desse são lançados antes mesmo de terem sua eficácia comprovada e são sustentados pelo marketing. Entretanto, existem produtos que tiveram, de fato, eficácia comprovada, como é o caso da vitamina A ou retinol, vitamina C e alfa-hidroxiácidos.
  A eficácia do retinol, por exemplo, já foi comprovada por diversos autores (Kligman, 1984 e 1986; Weiss, 1988; Ellis, 1990; Olsen, 1992; Kang, 1998), desde que em concentrações de 0,3% a 4,0%. O que acontece é que a maioria dos cremes anti-age a base de retinol disponíveis no mercado tem concentração muito distante da necessária, fazendo com que esses cremes não funcionem de fato.
  Mas não vemos muitos anúncios de creme a base de retinol, o que realmente faz a cabeça daqueles que desejam a juventude eterna, pelo menos esteticamente, são os cremes a base de colágeno. Surpresa: os consumidores são enganados novamente. Explicando de maneira bem didática, o colágeno é uma molécula bem grandona, e, assim, dificilmente atravessa a pele, ficando grande parte sobre a pele e sendo jogada fora no próximo banho, ou seja, seu dinheiro ($) vai literalmente pelo ralo.





  Quanto a um "remédio" para a melhor idade existem dois mais citados na literatura. O primeiro é a prática de exercícios ( o tema do grupo que fez essa pergunta), que não é um remédio propriamente dito, mas, como dizem nossos avós ( os protagonistas deste blog), mais vale prevenir do que remediar. Como já foi discutido neste blog e no nosso seminário ( para aqueles que tiveram o privilégio de assistir), a prática de exercícios não combate apenas a sarcopenia, mas também a osteoporose e a disfunção cognitiva. O outro "remédio" mais citado na literatura ( principalmente na literatura fantástica e na literatura infantil) é a fonte da juventude. Basicamente, bastaria um mergulho para todos os danos causados pela melhor idade serem eliminados. Ainda não conseguimos a sua localização geográfica; se alguém souber, nos avise. Enquanto ela não é localizada, o melhor é ir se exercitando.
















Referências bibliográficas:

terça-feira, 25 de outubro de 2011

DOENÇA DE HUNTINGTON



 É uma patologia neurodegenerativa, hereditária, autossômica dominante, caracterizada pela repetição anormal do tripleto instável CAG (citosina-adenina-guanina) em uma região do cromossomo quatro que codifica a proteína huntingtina. A mutação resulta na expansão de resíduos de glutamina localizados no terminal amínico da proteína huntingtina mutante.


As manifestações clínicas  da Doença de Huntington se caracterizam pela coréia progressiva, declínio cognitivo e perturbações psiquiátricas. Nos estágios mais avançados ocorre a bradicinesia, a rigidez severa, dificuldades para engolir, falar, lentidão de raciocínio, depressão, irritabilidade e demência. A cognição é afetada, inicialmente, sendo o declínio da capacidade intelectual um dos primeiros indicativos. Os sintomas se manifestam na faixa etária de 30 à 50 anos, levando o indivíduo à morte de 15 à 20 anos após o aparecimento dos primeiros sintomas.
 Ocorre uma atrofia do estriado (núcleo caudado e putâmen) e o tálamo, núcleo subtalâmico, substância negra e substância branca também podem ser afetadas. Essa atrofia resulta na diminuição do peso cerebral. Os neurônios mais afetados são os espinhosos médios, localizados no estriado, que recebem projeções axoniais tanto de neurônios dopaminérgicos da substância negra, quanto, de glutamaérgicos do córtex cerebral e tálamo. A enfermidade também é caracterizada pela presença de inclusões neuronais intranucleares e por agregados protéicos em neurites distróficas nos neurônios estriatais e corticais.
 A agregação da huntingtina mutante pode ser considerada um dos fatores promotores de lesão celular. Proteínas diversas interagem de forma anormal com a huntingtina mutante, ocasionando a desregulação de vias intracelulares importantes. No entanto, essas inclusões de huntingtina, nas fases iniciais, podem ter um papel protetor seqüestrando fragmentos oligoméricos tóxicos da huntingtina mutante.
 O estriado recebe impulsos excitatórios glutamaérgicos de todo o córtex cerebral. A maioria dos neurônios GABAérgicos apresenta uma expressão elevada do receptor de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA), que têm sua resposta potencializada pelo receptor mGluR5. Como conseqüência, há um aumento da concentração de cálcio intracelular podendo levar à disfunção mitocondrial e produção de espécies reativas de oxigênio, eventos que contribuem para neurodegeneração do estriado, observada em pacientes com Huntington.


O estriado também recebe impulsos das vias axoniais dopaminérgicas provenientes da substância negra. Alterações pré e pós sinápticas podem contribuir para disfunções na via nigro-estriatal. A diminuição da tirosina-hidroxilase (uma enzima limitante da biossíntese dopaminérgica) e um decréscimo da expressão do transportador de dopamina e receptores de dopamina ocorre nos cérebro dos doentes e esses processos estão associados ao desempenho cognitivo dos portadores da doença de Huntington. Além disso, essa perda de receptores dopaminérgicos pode ocasionar a bradicinesia e a rigidez.
 Não se pode esquecer do stress oxidativo. A disfunção mitocondrial, ativação da isoforma neuronal da sintetase de óxido nítrico e o metabolismo da dopamina, podem resultar na formação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. O envelhecimento se relaciona com a incapacidade dos neurônios lidarem de forma eficaz com as espécies reativas de oxigênio assim, a senescência potencializa a toxicidade da huntingtina mutante com o agravamento da lesão oxidativa no neurônio. 
 A huntingtina mutante é substrato de algumas enzimas proteolíticas como as caspases. A huntingtina mutante pode induzir a abertura de um poro mitocondrial acarretando a liberação do citocromo 86 que, uma vez no citosol, medeia a ativação das caspases que cilvam a huntingtina mutante promovendo a translocação da mesma para o núcleo. A clivagem pelas caspases 2 e 3 gera fragmentos que se acumulam na região perinuclear corroborando para disfunção neuronal.
 Estudos apontam que a presença da huntingtina mutante induz a atividade endossomal/lisossomal, com isso, estimula a autofagia, promovendo a degradação da huntingtina e remoção dos agregados protéicos. Esse processo autofágico pode ser interpretado como uma tentativa de eliminação da proteína mutante que, ao longo a doença, acaba se acumulando.


Escrito por Amanda Costa Pinto.


Fontes:

http://www.medportal.com.br/neurologia/doenca-de-huntington/

domingo, 23 de outubro de 2011

Genes da velhice

Nossos genes sofrem danos todos os dias em taxa de aproximadamente 50 mil vezes. Porém, nosso sistema de reparo é muito eficiente, o que impede que esses erros sejam propagados. O processo de envelhecimento, no entanto, diminui nossa eficiência no reparo. Assim, podem ocorrer mutações em genes que aceleram a velhice.
Certos genes foram relacionados ao envelhecimento a partir de pesquisas em que se provocaram erros no DNA de camundongos iguais aos erros apresentados no gene de pessoas que possuem doenças genéticas com características típicas da senescência. Essa pesquisa, conduzida pelo cientista Jan Hoeijmakers, professor da Universidade de Erasmo, se baseou nas seguintes doenças:
·         Xeroderma pigmentosum: caracterizado por pele muito ressecada, além de uma alta propensão a câncer de pele, devido à baixa tolerância dessas pessoas quanto à luz solar. Apresenta defeitos nos genes XPA e XPG.
·   Síndrome de Cockayne: seus portadores possuem disfunções neurológicas, perda de massa muscular, entre outros problemas. Porém não apresentam propensão à câncer. Seus danos estão nos genes XPG e XPD.
·   Tricotiodistrofia (TTD): apresentam quadro de unhas e cabelos quebradiços, diminuição de crescimento, anomalias neurológicas, além de pele escamosa. As mutações se encontram no gene XPD.

Todos esses genes contém o código para a síntese de proteínas relacionadas ao reparo de material genético, mais especificamente no mecanismo de reparo por excisão de nucleotídeo (NER). 
Sistema de reparo por excisão de nucleotídeo, de modo geral, acontece da seguinte forma:
·         Erro reconhecido pela proteína XPC
·         XPA e RPA facilitam a identificação da base alterada
·      XPB e XPD são helicases que abrem a dupla fita de DNA nas proximidades do dano
·  As endonucleases XPG e XPF cortam o segmento de DNA danificado, respectivamente nos lados 3´ e 5´
·         O fragmento é então retirado e o erro é corrigido 



Como a equipe do professor Jan conhecia exatamente o defeito no gene XPD causado pela TTD, provocou-se essa mesma mutação em genes de camundogos – no ponto R722 da proteína do XPD. Após algum tempo os camundongos começaram a apresentar características de envelhecimento como pelagem grisalha, mais rala e frágil, pele escamosa e unhas quebradiças. Além disso, passaram a ter um crescimento reduzido e a morrer mais cedo. Esses camundongos tiverem osteoporose acelerada, cifose na coluna vertebral, perda de massa muscular, ou seja, estavam de fato envelhecendo.

ratinho modificado geneticamente
Outro fato observado por essa pesquisa que também comprova a importância de um sistema de reparação eficiente na manutenção celular é que o camundongo preferia gastar sua energia para tentar consertar os genes ao invés de gastar  essa energia para crescer - fato comentado no post anterior. Isso foi comprovado ao fornecer a certos camundongos uma dieta com restrição calórica de 70% em relação à dieta normal. Esses roedores ficaram pequenos, porém acrescentaram 4 anos nas suas vidas. E, se for aumentado a concentração do hormônio de crescimento nos camundogos, esses crescem mais, porém morrem precocemente.
 Abaixo segue um vídeo de uma pequena parte da palestra do professor Jan Hoeijmakers no Brasil.



Referências bibliográficas:

Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

DISFUNÇÕES A NÍVEL MITOCONDRIAL E O ENVELHECIMENTO




Conceitos Básicos
As mitocôndrias são organelas celulares de fundamental importância na medida que garantem o suprimento energético das células eucariontes em que estão presentes. Sendo assim, elas são extremamente numerosas em células que necessitam de uma quantidade considerável de energia, como por exemplo as células nervosas e cardíacas, que possuem atuação ininterrupta no organismo humano.
Possuindo proteínas, ribossomos e DNA próprios, nas mitocôndrias ocorrem vias metabólicas fundamentais para o processo de respiração celular, pelo qual substâncias orgânicas são oxidadas liberando energia na forma de ATP. Essa energia é essencial para a ocorrência de diversos fenômenos celulares, como transporte ativo e síntese de substâncias. 

Por que essas organelas estão relacionadas com o envelhecimento?
Uma das etapas do processo de respiração celular é denominada fosforilação oxidativa. Essa etapa utiliza a oxidação controlada de coenzimas reduzidas (NADH e FADH2) geradas nas vias metabólicas precedentes para a geração de energia potencial para fosforilar ADP, por meio de complexos enzimáticos específicos. Os elétrons derivados das coenzimas reduzidas podem reagir diretamente com o oxigênio ou com outros receptores de elétrons em diversos pontos da cadeia transportadora, gerando espécies químicas conhecidas como radicais livres.
 De forma simplificada, radicais livres são espécies químicas independentes que contém um ou mais elétrons não pareados no orbital externo. Essas espécies, em geral, são instáveis e altamente reativas; ao reagirem com uma molécula, geram outro radical livre, iniciando uma reação em cadeia. Nesse contexto, radicais livres particularmente comuns são as chamadas espécies reativas de oxigênio, representadas pelo íon superóxido, pelo peróxido de hidrogênio e pelo radical hidroxila. A cadeia de transporte de elétrons mitocondrial é a maior fonte endógena de espécies reativas de oxigênio.
Com o processo de envelhecimento, por razões ainda não muito elucidadas no meio científico, os mecanismos regulatórios da produção de radicais livres vão se tornando insuficientes, caracterizando uma situação de estresse oxidativo mitocondrial. Admite-se que essa seja a razão para o acúmulo de deleções no DNA mitocondrial que é inerente à senescência. Dessa forma, advoga-se que um ciclo característico estaria envolvido no processo: lesão do DNA mitocondrial defeito na cadeia respiratória produção de radicais livres lesão do DNA mitocondrial. É válido ressaltar ainda que algumas características peculiares do DNA mitocondrial favorecem a lesão por radicais livres: ausência de histonas, sistema de reparo pobre e localização próxima à cadeia respiratória (que é uma fonte de radicais livres na mitocôndria).

Alternativas antienvelhecimento baseadas na atividade mitocondrial

Restrição Calórica
Uma forma reconhecida de se retardar o processo de envelhecimento é a restrição calórica (RC), que consiste na diminuição da ingestão de calorias sem a falta de nutrientes essenciais.
Em 1934, McCay e Crowell mostraram que a RC é capaz de aumentar a longevidade em ratos. Estudos atuais demonstram que animais, incluindo roedores e possivelmente primatas podem ter extensão na longevidade quando submetidas a dietas de RC. Nesses animais, a RC resulta num retardamento do envelhecimento e consequente aparecimento de condições patológicas típicas da idade.
A resposta para o fato de a RC retardar o processo de envelhecimento se relaciona com a geração de radicais livres durante o metabolismo mitocondrial que foi anteriormente explanado. Nesse caso, a menor quantidade de glicose e substratos orgânicos disponíveis em decorrência da RC promove uma diminuição da geração mitocondrial de espécies reativas de oxigênio e consequente oxidação do DNA mitocondrial.

Desacopladores
Hoje se sabe que algumas substâncias lipofílicas, como o 2,4-dinitrofenol (DNP), são capazes de dissociar o transporte de elétrons da fosforilação oxidativa; estas substâncias são chamadas desacopladores. Estes se associam a prótons no exterior da mitocôndria e os liberam na matriz, impedindo assim a formação do gradiente de prótons. Nestas condições, o transporte de elétrons torna-se energeticamente mais favorável e sua velocidade aumenta, já que não há o concomitante transporte de prótons contragradiente.  

                               Mecanismo de ação do DNP sobre a respiração celular

A intensificação da velocidade da cadeia de transporte de elétrons acarreta uma diminuição da possibilidade de que haja a formação de radicais livres que possam causar dano celular. É devido a esse fato que os desacopladores podem surgir como uma alternativa antienvelhecimento.
Um grupo de cinco pesquisadores da USP divulgou, em 2008, um estudo no periódico especializado “Aging Cell” demonstrando que a administração de doses adequadas de DNP em camundongos acarretava efeitos benéficos sobre a saúde e a longevidade desses animais.
O curioso é que o DNP é reconhecido por ser uma molécula extremamente tóxica e letal. Entretanto, como ficou provado no estudo, doses adequadas podem trazer efeitos benéficos. Mesmo assim, o grupo de pesquisadores não alimenta a expectativa de vir a utilizar o DNP como futura droga antienvelhecimento. Os pesquisadores afirmam que o que os estudos indicam é uma nova estratégia para controlar o envelhecimento e doenças associadas: o desacoplamento mitocondrial. A partir daí, poderão ser testados novos desacopladores que, no futuro, constituirão meios eficazes de retardar a senescência.

Referências Bibliográficas:
● Marzzoco, A. & Baptista, B., Bioquímica Básica, 3ª edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2007. 
● Alberts et al. (2008) Molecular Biology of the Cell, 5ª edição.
● Oliveira, Graciele Almeida de. “Restrição calórica e mitocôndrias: papel no envelhecimento de Saccharomyces cerevisiae”. São Paulo, 2010. 116p.

Escrito por: Matheus de Oliveira Andrade



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

HSP e o envelhecimento

O envelhecimento e a degeneração tecidual apresentam relação com o acúmulo de danos em macromoléculas intra e extracelulares, entre as quais se destacam as proteínas e os ácidos nucleicos. Os danos podem apresentar várias origens, como o estresse oxidativo, a glicação, resíduos metabólicos energéticos ou químicos, entre outros. Foi proposto que os maiores danos sofridos por proteínas, um dos grupos de moléculas mais importantes no estudo do envelhecimento, podem ser ampliados pelo declínio da resposta das chaperonas, do grupo de HSPs (heat shock protein).
Chaperonas são proteínas de extrema importância para a manutenção da integridade proteica celular e, após estresse ambiental, apresentam uma importância ainda maior para a recuperação das proteínas que forem danificas durante esse estresse. A função básica delas consiste em impedir ou reverter interações inadequadas entre regiões de uma proteína, direcionando-a a estruturação de sua conformação nativa. Elas atuam sobre as proteínas recém-sintetizadas, constantemente danificadas e recém-danificadas, caracterizando, em casos de danos, a resposta ao choque térmico (heat shock response).
Estudos recentes apontam para o declínio da resposta ao choque térmico nas células em envelhecimento, a qual torna-se debilitada à medida que os organismos ultrapassam o estágio adulto, ou período de maior fertilidade, devido à perda da capacidade de ativar vias de transcrição que levam à síntese de HSPs. Esse decréscimo de atividade que, de acordo com os estudos, está relacionado à idade e mostra-se comum em tecidos neuronais, musculares estriados cardíaco e esquelético e em células hepáticas; há destaque para os tecidos neuronais nesse contexto, pois a decadente atividade das HSPs está relacionada a desordens neurodegenerativas mais frequentes como a doença de Alzheimer.
           O papel das proteínas da família HSF (heat shock factor), em especial o HSF1 que é o mais comum em eucariotos, as quais são fatores transcripicionais que regulam a expressão de genes que codificam as HSP, é de grande importância para a relação entre a atividade das chaperonas e o processo de envelhecimento, pois a habilidade de expressá-los, a qual envolve uma série de receptores de sinais e reações, decai com a idade afetando, portanto, a resposta aos danos causados às proteínas celulares, podendo resultar em desordens como o câncer ou na morte celular.
A redução na capacidade de expressão de HSF1 é comum no envelhecimento e pode estar relacionada a alterações nos complexos formados por HSF1 e chaperona, devido a danos ao longo da vida, ou nas vias de transdução de sinal que atuam sobre enzimas participantes das cadeias de reações de fosforilação ou de desacetilação, pois elementos e mecanismos bioquímico fundamentas para o bom funcionamento destas vias também estão sujeitos a danos.
            Pode-se destacar, com o que foi explanado anteriormente, a possibilidade de exploração das chaperonas no combate ao envelhecimento. Há pesquisas direcionadas à produção de drogas que atuem sobre compostos que afetam negativamente ou positivamente a produção de HSPs.



Referências bibliográficas: 

Escrito por: Luis Octavio Hauschild


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cartilagens e articulações no envelhecimento

  Como já foi abordado em outras postagens deste blog, uma das manifestações mais evidentes da síndrome da fragilidade é a redução da mobilidade do idoso. Sem dúvida o comprometimento muscular é o principal fator na dificuldade de locomoção, mas também há outro fator de grande importância (e que, como sugere o título, será abordado nesse post): a degeneração da cartilagem, especialmente da cartilagem articular.
   A cartilagem articular, basicamente, amortece e dissipa forças e diminui a fricção entre os ossos reduzindo o desgaste ósseo. Essa função só é possível devido à constituição e estruturação de seus componentes, que conferem resistência e elasticidade. Vamos, então, a essa estruturação.
  Ela é constituída pelas células secretoras da matriz (condroblastos e condrócitos) e pela matriz celular. As funções da cartilagem são consequências imediatas de sua constituição, principalmente de sua matriz extracelular, que é composta por colágeno, que confere a resistência a esse tecido, e os proteoglicanos (GAGs –glicosaminoglicanos- + proteínas), especialmente os carboxilados e sulfatados ( condroitin-4-fosfato e condroitin-6-fosfato), que, devido às cargas elétricas, se associam a moléculas de água. Esta maior hidratação favorece a resistência a forças de compressão, a absorção de choques e a nutrição das células desse tecido.
  O condrócito, célula responsável pela produção da cartilagem, é regulado por é regulado por mediadores pró-anabólicos, que controlam mecanismos de produção e regeneração cartilagínea, e por mediadores pré-catabólicos, que promovem a degradação cartilagínea.

  Os principais anabólicos são o IGF-1 e o TGF-β, devido às suas ações na síntese de proteoglicanos e, consequentemente da cartilagem  articular. Já os principais responsáveis pela degradação (catabolismo) da cartilagem são as metaloproteases, as enzimas zinco-dependentes (divididas em colagenases, gelatinases e estromelisina), a IL-1, IL-6 e TNF-α.
  Para bloquear a ação dos mediadores catabólicos e minimizar o desgaste cartilagíneo, há os inibidores tissuais das metaloproteases.

  Com o envelhecimento, há um aumento da produção de metaloproteases, estimulado pela IL-6, que não é seguido por um aumento dos inibidores tissuais dessas metaloproteases. Dessa forma, predomina a degeneração da cartilagem.

 As metaloproteses alterando a estrutura dos proteoglicanos, principalmente na região da proteína de associação, diminuindo a agregação dos proteoglicanos, e, consequentemente, a hidratação destes e do colágeno. Ao mesmo tempo, a IL-6 inibe a ação dos fatores de crescimento, principalmente do IGF-1 e do TGF-β.
  Todo esse conjunto de alterações permite compreender porque os idosos são tão propensos a problemas articulares e a dificuldade de locomoção de indivíduos nessa faixa etária.

Escrito por Luís Fernando Amarante Fernandes

Referências bibliográficas:
  

sábado, 15 de outubro de 2011

A DOENÇA DE PARKINSON


A Doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez em 1817 pelo Dr. James Parkinson. Desenvolve-se freqüentemente após os 50 anos e é um dos distúrbios nervosos mais comum em idosos, afetando tanto homens, quanto mulheres. A sua manifestação em pessoas jovens é rara e remete à causas hereditárias.
É uma enfermidade degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. Resulta da degeneração de neurônios produtores de dopamina, presentes na substância negra, o que promove uma queda na disponibilidade dessa substância, um estimulante do sistema nervoso central, precursor da adrenalina e noradrenalina, envolvida na dependência psicológica e vários vícios, além de apresentar um papel fundamental no sistema motor. As células nervosas da substância negra enviam fibras para tecidos localizados em ambos os lados do cérebro, onde liberam neurotransmissores que auxiliam no controle do movimento e coordenação.
 A diminuição da quantidade de dopamina disponível, associada à elevados níveis de acetilcolina, ocasiona um aumento dos disparos tônicos dos neurônios gabaérgicos localizados no globo pálido interno e substância negra, que são componentes dos núcleos da base (agrupamentos neuronais localizados na base do cérebro).  Esse aumento no padrão de disparos tônicos determina uma diminuição da ativação do córtex motor, supressão do sistema inibitório do tônus muscular e inibição do sistema de execução da locomoção.
Essa alteração na frequência dos disparos gabaérgicos em virtude da depleção dopaminérgica, é responsável pela menor ativação cortical logo, a realização de sequências de movimentos aprendidos, o preparo e manutenção de tarefas motoras com prontidão e a execução de tarefas funcionais apropriadas sofre prejuízo. Além disso, a supressão do sistema inibitório do tônus muscular, citada anteriormente, resulta na rigidez ou aumento da resistência à movimentação passiva. Com isso, o paciente portador de Parkinson apresente diversos sintomas, como, equilíbrio e caminhar comprometidos, diminuição de movimentos automáticos(como piscar), perda da motricidade fina( caligrafia confusa), rigidez muscular, tremores, posição inclinada, etc.
Apesar de aspectos importantes dos mecanismos moleculares responsáveis pela doença ainda serem desconhecidos, observa-se a formação de agregados protéicos dentro dos neurônios compostos principalmente de α-sinucleína. Em pacientes afetados pelo Mal de Parkinson a α-sinucleína adota uma forma alterada, que se agrega em aglomerados tóxicos para a célula. Estudos  indicam que essa alteração na forma da proteína é induzido pela dopamina, o que explica a vulnerabilidade dos neurônios dopaminérgicos da substância negra: a dopamina presente em seu interior favorece as formas da α-sinucleína com tendência à formação de aglomerados protéicos tóxicos que levarão esses neurônios à morte.
Não há cura para o mal de Parkinson, entretanto, os tratamentos atuais são bastante efetivos no controle dos sintomas. Como a dopamina não atravessa a barreira hematoencefálica, utiliza-se a levedopa, droga precursora que será convertida em dopamina dentro do cérebro. Várias outras drogas que mimetizam a atuação da dopamina podem sem usadas, como bromocriptina, pramipexol e ropinirol.


Escrito por Amanda Costa Pinto.


Fontes:
www2.pucpr.br/reol/index.php/RFM?dd1=3393&dd99=pdf