sábado, 3 de dezembro de 2011

Envelhecimento e morte, o papel do estresse oxidativo é posto à prova

Como muitos devem saber, a teoria do estresse oxidativo é uma das mais populares para explicar o processo de envelhecimento ao nível molecular. De forma resumida, ela se baseia no dano causado por espécies oxigenadas reativas e radicais livres às macromoléculas dos organismos para explicar o envelhecimento. Diversos estudos realizados em modelos animais indicam que esta teoria é válida; porém, há pesquisas que apresentam evidências contra essa teoria. E é sobre um desses estudos que este texto é dedicado; para deixar o assunto mais didático vou tentar não me aprofundar muito nos experimentos, voltando a atenção para os resultados e para as discussões.
Em estudos realizados com camundongos, os quais foram mantidos em condições protegidas de patógenos, com alimento à vontade, e seguindo-se protocolos visando eliminar erros experimentais, depois, eles foram divididos em grupos de estudo. Resumindo o restante do experimento: foram feitas 18 manipulações genéticas diferentes em genes que codificam enzimas antioxidantes As modificações foram tanto para aumentar a expressão desses genes, quanto para diminuir a expressão e analisar os efeitos desses procedimentos quando apenas um é modificado ou quando dois são alterados, procurando-se evidenciar se existe relação entre estresse oxidativo e o tempo de vida.
Entre as enzimas modificadas a Cu/Zn-suroxide dismutase (CuZnSOD), de grande importância para a defesa antioxidante, pois catalisa a dismutação do superóxido em oxigênio e peróxido de hidrogênio, foi a que apresentou efeitos consideráveis sobre o tempo máximo de vida quando pouco expressa; os dados indicaram que estes camundongos tiveram um decréscimo de mais de 30% no máximo tempo de vida.
Os resultados do estudo da Glutathione peroxidase 4 (Gpx4) foram interessantes, pois a baixa expressão desta, de acordo com a teoria do estresse oxidativo, devia, por redução da habilidade de reparo do dano provocado por estresse oxidativo a membranas, diminuir o tempo de vida dos indivíduos. Entretanto, observou-se um aumento na expectativa de vida mediana nos camundongos do grupo modificado; isso ocorreu devido à diminuição da incidência de câncer no grupo, pois a Gpx4 atua sobre a apoptose (morte celular programada), inibindo-a; assim, ocorreu mais morte celular por efeito do estresse oxidativo no grupo, uma vez que a atuação da Gpx4 diminuiu, eliminando potenciais células cancerígenas. Porém, o tempo de vida máximo não mostrou o mesmo padrão.
Os demais resultados de baixa ou de alta expressão de enzimas antioxidantes indicaram que as alterações tiveram pouco efeito comparativo com os respectivos grupo do tipo selvagem sobre o tempo de vida dos animais. É importante ressaltar que todas as manipulações genéticas tiveram efeitos sobre danos oxidativos aos tecidos dos camundongos, assim, animais de baixa expressão das enzimas analisadas tiveram maiores danos oxidativos aos tecidos e animais com elevada expressão mostraram-se mais protegidos ao dano como mostrou a integridade dos tecidos quando analisados.
O tempo de vida foi o parâmetro para determinar envelhecimento; porém, os parâmetros envolvendo mudanças nos mecanismos básicos de envelhecimento e de manutenção da saúde seriam melhores para observar as alterações no processo de envelhecimento, pois é possível que os animais geneticamente modificados tenham o envelhecimento acelerado ou desacelerado de alguns tecidos sem ter, no entanto, mudança no tempo de vida.
Apesar dos resultados serem argumentos contra a validade da teoria do estresse oxidativo (analisando pelos parâmetros de longevidade), não foram considerados que a inativação ou hiperatividade de genes codificantes de enzimas antioxidativas possam ter efeito sobre a atividade de outros genes, gerando uma resposta que pode ter levado aos resultados observados.

Referências bibliográficas:
Review: I. P., Viviana; B., Alex; V. R., Holly; M., James; R. Quitao; I., Yuji; R., Arlan;In: Is the oxidative stress theory of aging dead?, ELSEVIER, 2009.

Escrito por: Luis Octavio Hauschild

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