quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Rejuvenescimento celular X envelhecimento celular

            Procedimentos contrários que são capazes de trazer benefícios nos tratamentos de doenças. O primeiro retoma a juventude celular tornando-a semelhante às células embrionárias e a segunda transforma células cancerígenas em células senis. Então, será melhor envelhecer células ou rejuvenescê-las? Que vença a melhor!

            Recentemente foi publicado em uma revista especializada chamada Genes & Development uma pesquisa do Instituto de Genômica Funcional da Universidade de Montpellier, na França. O objetivo da equipe de cientistas era reverter as células de idosos em células-tronco. Isso poderia representar um tratamento alternativo de terapia regenerativa para tecidos e órgãos de pacientes idosos, uma vez que a chance de rejeição pelo sistema imune se reduziria significantemente.
            A comprovação da reversibilidade do envelhecimento celular começou com um problema: o limite da célula adulta para a reprogramação em célula-tronco é o estado chamado senescente, no qual há uma interrupção da multiplicação celular. Esse impedimento da proliferação é uma característica totalmente oposta às características de células-tronco, que possuem a telomerase – enzima sintetizadora de telômeros – muito ativa. A fim de superar essa barreira, os pesquisadores induziram, in vitro, a transcrição de genes que codificam alguns fatores de transcrição – OCT4, SOZ2, CMYC, KLF4, Nanog e Lin28. Esses fatores são proteínas que permitem a transcrição de genes para o prosseguimento do ciclo celular.
Fibroblastos, um dos tipos de células usadas na experiência dos pesquisadores francesas (Dr Gopal Murti/Science Photo Library/Latinstock)
            Dessa forma, fibroblastos de um doador de 74 anos foram estimulados à proliferação até o limite de multiplicação, ou seja, até atingir o estado de senescência celular. Reprogramaram, então, esses fibroblastos com os fatores de transcrição ativos e obtiveram como resultado células-tronco pluripotentes induzidas. Para corroborar ainda mais a experiência, realizaram os mesmos procedimentos em células de idosos de 92, 94, 96 e 101 anos; em todos comprovaram a eficiência do método.
            Por outro lado, o envelhecimento pode trazer benefícios ao impedir a formação de tumores em células cancerígenas, pois a senescência, como explicado, é caracterizado por interrupção da continuidade do ciclo celular. A partir de uma pesquisa realizada pela Harvard Medical School, nos EUA, descobriu-se que a inibição de um oncogêne – o Skp2 – provoca um envelhecimento precoce, o qual leva a célula à morte e impede a formação de tumores.
Estrutura tridimensional da proteína Skp2, que ajuda a degradar outras proteínas que inibem a progressão do ciclo celular (arte: Wikimedia Commons).
            A experiência foi realizada em ratos que haviam desenvolvido câncer de próstata. Em um grupo de roedores foi promovida a modificação de seu DNA - gene Skp2 bloqueado - e em outro grupo nada foi alterado. Como resultado, verificou-se que os modificados não apresentaram tumores, além de terem suas células envelhecidas precocemente, já o grupo normal apresentou tumor.
            Outra observação dos cientistas foi que esse efeito de supressão de gene é o mesmo verificado ao submeter os ratos a uma droga contra o câncer, denominada MLN4924. Porém, ao contrário da droga, a modificação gênica não promove efeitos colaterais.
              Se antes pensávamos que envelhecimento celular só promovia a degradação, agora foi comprovado que pode salvar vidas. Esse fato torna mais complicado a definição de uma resposta para a pergunta do início. No entanto, considerando que ambas possuem perspectivas positivas  em tratamentos de doenças tão comuns em idosos, declaro a luta empatada!


Referências bibliográficas:

Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

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