Atualmente, uma das explicações mais aceitas para as mudanças causadas pelo envelhecimento consiste no acúmulo de eventos acidentais de perda irreparável da fidelidade molecular. A principal evidência dessa teoria reside no fato de que tudo no universo muda ou envelhece no espaço-tempo sem uma programação prévia de estruturas informacionais, como os genes.
Nesse contexto foi inserida a definição de “entropia”, a qual, respeitando a 2ª Lei da Termodinâmica, é a tendência natural de tudo no universo passar de um estado mais energético para um menos energético. A organização não é, portanto, uma tendência, pois o nível de menor energia geralmente consiste na forma em que existem mais possibilidades de combinações no sistema analisado; assim, o maior número de possibilidades está presente no conjunto unidades básicas da estrutura complexa separados aleatoriamente, ou tecnicamente falando, no maior número de microestados ou de conformações possíveis.
Organismos vivos e inanimados diferem, nesse ponto, pela capacidade das células e dos organismos de produzir organização, ou seja, de contornar a tendência de perda de complexidade. Eles podem fazer isso pois são sistemas abertos e, devido a isso, trocam energia e matéria com o ambiente, usando energia oriunda da luz ou dos alimentos para investir no aumento e na manutenção de sua complexidade, a qual pode ser observada nas diversas estruturas biomoleculares presentes na química da vida.
Porém, o emprego do metabolismo na produção de energia gera, invariavelmente, produtos potencialmente nocivos e perdas energéticas, os quais resultam na inativação de biomoléculas ou na disfunção da atividade molecular. Esses produtos e essas perdas não podem ser evitados, mas a seleção natural favoreceu indivíduos capazes de reparar ou reconstruir estruturas que forem danificadas através do uso da energia até o período reprodutivo.
Passado esse período de perpetuação da espécie as biomoléculas continuam sofrendo erros, porém, as estruturas responsáveis pelos reparos também acumularam falhas e as moléculas complexas cedem, gradativamente, à entropia, caracterizando o processo de envelhecimento que é acompanhado pela menor eficiência dos mecanismos orgânicos intrínsecos à vida.
Muitos acreditam que principal papel da genética, nesse contexto, envolve a hereditariedade de características que definam se o individuo possui moléculas mais vulneráveis ou não à tendência de perda de complexidade nas células e nos outros compostos orgânicos. Pode-se concluir, portanto que os genes possuem uma influência sobre a longevidade, mas não têm como função principal a programação do envelhecimento.
A compreensão das causas iniciais do envelhecimento é crucial para o melhor entendimento do funcionamento dos processos posteriores responsáveis pela degradação molecular e celular do organismo em idade senil. Esse conhecimento é fundamental para a pesquisa e o desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos melhor direcionados para conter o processo degenerativo sofrido pelo idoso.
Referências bibliográficas:
Artigo: Hayflick L (2007) Entropy Explains Aging, Genetic Determinism Explains Longevity, and Undefined Terminology Explains Misunderstanding Both. PLoS Genet 3(12): e220. doi:10.1371/journal.pgen.0030220
Lehninger Princípios de Bioquímica; Nelson,David L. and Cox, Michael M., terceira edição
Escrito por: Luis Octavio Hauschild
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