quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Fosfatase Alcalina e o Envelhecimento

Figura I



 A fosfatase alcalina é uma enzima que desempenha diversas funções no âmbito metabólico do organismo humano. Ela é uma glicoproteína dimérica (vide Figura I) que catalisa a hidrólise de ésteres monofosfatos e age em meio alcalino (daí a sua denominação), tendo pH ótimo próximo de 10 (vide Figura II).




Figura II
     Essa enzima existe em muitos tecidos e abrange uma gama de seres vivos, o que indicia que ela exerce funções de suma importância para o metabolismo. Apesar disso, seu papel fisiológico não está totalmente elucidado de forma clara. É sugerido atualmente que há uma associação entre a fosfatase alcalina e sistemas de transporte, como o transporte intestinal de lipídios, renal de fosfato, além da modulação da atividade de glicoproteínas.
     No organismo humano, essa enzima é encontrada sob quatro formas fundamentais: a tecidual não específica (FAtne), a intestinal (FAint), a placentária (FApl) e a das células germinais. A FAtne abrange praticamente todos os tecidos, sendo, contudo, mais abundante nos ossos, rins e no fígado. As três outras isozimas são mais específicas, sendo que a designação de cada uma delas reflete o local de expressão mais elevada. Isso, porém, não significa que essas três últimas formas absolutamente não possam ter ação em outros tecidos.
     A atividade de cada uma das isozimas da fosfatase alcalina está relacionada a condições fisiológicas e patológicas. Por exemplo, a FAtne de origem óssea aumenta na osteoporose, no raquitismo, na osteomalácia e na doença de Paget; a de origem hepática aumenta em situações de obstrução biliar. É justamente devido a estas e outras propriedades que o doseamento da atividade dessa enzima é utilizado na bioquímica clínica há mais de 70 anos no diagnóstico de situações fisiopatológicas.
     Excedendo a aplicação no simples diagnóstico clínico, a atividade da fosfatase alcalina pode estar relacionada a um processo intrínseco à existência humana: o envelhecimento. Esta é a base dos estudos realizados pelos pesquisadores M. R. Negrão, M. J. Martins, E. Ramos, H. Barros, C. Hipólito-Reis, I. Azevedo da Universidade do Porto (Portugal).
     No trabalho desses pesquisadores foram caracterizados os níveis séricos da atividade da fosfatase alcalina humana de acordo com a idade e o sexo. A atividade da enzima foi determinada em 203 indivíduos sadios, residentes na área do Hospital de S. João, com idade igual ou superior a 40 anos.
     No grupo dos homens (87 indivíduos), a fosfatase alcalina total (FAtotal) aumentou acentuadamente da quinta para a sexta década, tendo estabilizado nas faixas etárias seguintes. A FAtne aumentou sempre com a idade, embora o aumento tivesse sido mais acentuado da quinta para a sexta década. A FAint aumentou da quinta para a sexta década, diminuindo em seguida.
     No grupo das mulheres (116 indivíduos), a FAtne aumentou sempre com a idade, embora o aumento tenha sido mais acentuado após os 69 anos. A FAtotal também aumentou com a idade, embora se note um patamar entre os 59 e os 69 anos de idade devido ao fato de a FAint estabilizar naquela faixa etária.
     Para a população total, para o grupo dos homens e para o grupo das mulheres, observou-se uma correlação positiva significativa entre a FAtotal e a idade (vide Quadro I).
     Na literatura, encontram-se dados imprecisos, e por vezes contraditórios, sobre a relação entre a atividade dessa enzima e o avanço da idade. Enquanto alguns estudos afirmam não haver relação entre a atividade da fosfatase alcalina e a idade, outros corroboram os resultados da pesquisa supracitada. Há trabalhos realizados na Austrália, em 1986, e nos Estados Unidos, em 1993, com cerca de 10000 e 6000 indivíduos, respectivamente, que chegaram aos mesmos resultados: a atividade da fosfatase alcalina aumenta em ambos os sexos à medida que se envelhece.
     A importância primordial desse estudo no que se refere ao processo de envelhecimento está relacionada ao fato de que há uma correlação negativa entre a atividade da fosfatase alcalina e a taxa metabólica. Por consequência, pode haver uma relação direta entre a disfunção metabólica própria do processo de envelhecimento e atividade de tal enzima. Enfim, o uso da atividade da fosfatase alcalina como biomarcador de idade e as suas relações com o metabolismo trazem novos parâmetros e expectativas futuras para os estudos e para a compreensão mais holística da disfunção metabólica e o processo de envelhecimento.

Referências Bibliográficas:
Artigo “Fosfátase Alcalina Sérica Humana e Envelhecimento”. M. R. Negrão, M. J. Martins, E. Ramos, H. Barros, C. Hipólito-Reis, I. Azevedo. ACTA Médica Portuguesa 2003; 16: 395-400.

Escrito por: Matheus de Oliveira Andrade.

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