segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Particularidades dos remédios no corpo senil

O processo de envelhecimento causa alterações fisiológicas que tornam a população da terceira idade mais vulnerável aos efeitos de medicamentos. Nesses casos, há mudanças nos fatores farmacocinéticos e farmacodinâmicos.


O que é a farmacocinética?
É a análise quantitativa da ação de uma droga em função do tempo. É observada a absorção, a distribuição, o  metabolismo e a excreção medicamentosa.


Alterações farmacocinéticas na velhice:
·         Absorção:
Devido ao aumento de pH gástrico em idosos, há interferência na ionização e solubilidade de algumas substâncias ativas. A absorção também fica comprometida pela redução da superfície da mucosa gastrointestinal e pela diminuição de seu fluxo sanguíneo. Mas como o esvaziamento gástrico se torna mais lento, o tempo de absorção pode ser prolongado e a degradação de medicamentos secundária à ação do ácido clorídrico pode ser aumentada. Além disso, a absorção de medicamentos fracamente ácidos é reduzida.

·         Distribuição:
A porcentagem de tecido adiposo no peso corporal de um idoso aumenta de 15% para 30%, além disso, a quantidade de água intracelular decresce cerca em 20%. Substâncias lipossolúveis – benzodiazepínicos, barbitúricos e fenitoína, por exemplo – têm seus tempos de ação e meia-vidas aumentados por se depositarem e serem liberados mais lentamente pelo tecido adiposo. Já as hidrossolúveis têm sua distribuição prejudicada e sua concentração plasmática elevada, potencializando seus efeitos. Consequentemente, o idoso passa a tomar doses maiores de medicamentos lipossolúveis e doses menores de hidrossolúveis. Somado a isso, há variações na concentração de proteínas plasmáticas transportadoras de fármacos: a concentração sérica de albumina se reduz e a de glicoproteína ácida alfa-1 aumenta. A albumina é responsável pelo tamponamento de fármacos ácidos e a glicoproteína ácida alfa-1, de fármacos básicos. Essas variações são capazes de resultar em toxicidade medicamentosa.

·         Metabolismo:
Também conhecido por biotransformação é caracterizado por transformar medicamentos em metabólitos por meio do fígado. No entanto, esse órgão em idosos tem menor massa, peso e volume se comparado ao de um jovem. Além disso, os fluxos sanguíneos hepático e esplâncnico são reduzidos em indivíduos da terceira idade, diminuindo o metabolismo de fármacos fluxo-dependentes. Assim, acentua-se a concentração sérica dos medicamentos e seus efeitos farmacológicos. Duas fases dividem a biotransformação. A fase I é a ativação ou inativação de fármacos (hidroxilação, dealquilação, oxidação, redução e hidrólise). A fase II (conjugação e glucoronação) estabelece os graus de polaridade e hidrossolubilidade da substância que auxiliarão na sua eliminação. O processo de envelhecimento altera a fase I, diminuindo sua ação, o que provoca um aumento da meia-vida de fármacos metabolizados por essa fase.

·         Excreção:
Prejuízos na função renal de um idoso também acarreta no reajuste de doses medicamentosas, principalmente, em fármacos de meia-vida longa que podem se acumular no organismo. Recomenda-se o ajuste da dosagem pelo Clearance de creatinina ou por meio de fórmulas como de Cockroft e Gault:
Fórmula de Cockroft – Gault
Clearance de creatinina = (140 – idade) x Peso x (0,8 sexo feminino)
                                                 Creat.plasma x 72

A creatinina é uma substância sem função para o organismo resultado da degradação da creatina no músculo. Se sua concentração sanguínea estiver alta, significa que o rim não está funcionando direito.


            E, o que é farmacodinâmica?
            A farmacodinâmica é a análise de como cada medicamento irá afetar o organismo.
As modificações farmacodinâmicas são verificadas pela medida, intensidade, determinação do tipo e duração do efeito de uma certa concentração do fármaco em seu local de atuação. Com a senescência esses fatores são modificados pela alteração da afinidade entre o medicamento e seu receptor celular.
As sensibilidades de receptores beta-adrenérgicos e barorreceptores são reduzidas, provocando um maior risco de hipotensão postural. Já nos receptores alfa-adrenérgicos ocorre o inverso, pois sua sensibilidade é aumentada acentuando os efeitos de fármacos como a fenilefrina e clonidina. E as alterações em receptores colinérgicos são capazes de favorecer a afinidade com benzodiazepínicos, dificultar a termorregulação, aumentar a intolerância à glicose, provocar queda da capacidade cognitiva e diminuir a resposta imune.


Baldoni, A.O.; Pereira, L.R.L.; Estudo de utilização de medicamentos em idosos atendidos pelo Sistema Único de Saúde ( SUS). 2010. 133f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010.
Lopes, A.C.; Tratado de clínica médica – volume III. 2° edição. São Paulo: Editora Roca, 2009. Capítulo 420, páginas 4413 – 4415.


Escrito por: Larissa Naomi Lima Akamine

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